sábado, 1 de março de 2008

O misterioso consultor do PT, o gaúcho Luis Antonio Lima

A edição da revista Época, que está nas bancas do País, conta a história do misterioso e mágico casal de consultores petistas que conseguiram contratos milionários, de muitos milhões de reais, com administrações petistas. Mas, não só petistas, também em governos como o da prefeitura de Porto Alegre, sob a administração de José Fogaça (ex-PPS, atual PMDB). Leia a matéria a seguir: “No partido (o PT), há uma troca de acusações sobre quem ajudou Luís Lima a ganhar milhões em contratos suspeitos com prefeituras petistas. O psicólogo gaúcho Luís Antonio Lima, de 42 anos, poderia ser apenas mais um na multidão de consultores que se dedicam a vender métodos ‘estratégicos’ de gestão para empresas e órgãos públicos. Sua carreira começou em 1991, quando fez uma reforma administrativa na empresa de transporte da Prefeitura de Porto Alegre, a Carris. Na época, o prefeito da capital era o petista Olívio Dutra, que seria eleito governador do Rio Grande do Sul em 1998. No governo de Olívio, Lima vendeu consultorias para bancos oficiais e para o Detran. Os negócios de Lima e sua empresa, a Intercorp, foram crescendo com o aumento da influência do PT no Rio Grande do Sul e, depois, no Brasil. O grande salto da Intercorp ocorreu a partir de 2001, com a assinatura de uma parceria com a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), ligada à Universidade de Brasília (UnB). É a mesma fundação que gastou R$ 390 mil para mobiliar o magnífico apartamento do reitor Timothy Mulholland. Quem levou Lima para a Finatec foi Antônio Manoel Dias, ex-presidente da fundação, afastado do cargo pelo Ministério Público em fevereiro. A intervenção do MP do Distrito Federal na Finatec expôs as relações suspeitas entre Luís Lima e várias prefeituras do PT, como ÉPOCA mostrou na semana passada. Auditorias internas e investigações do MP nos contratos de São Paulo, Recife, Vitória e Piauí demonstram irregularidades, apontam desvios e indicam mau uso de dinheiro público em benefício da empresa de Lima. Luís Lima diz que Vicente Trevas, assessor do Ministério da Justiça, o indicou para a Prefeitura do Recife. De acordo com as investigações do MP, Luís Lima usava a Finatec como uma espécie de fachada para fazer contratos com prefeituras e governos sem a necessidade de disputar concorrência. Aproveitava-se de uma brecha legal que permite aos governantes dispensar as licitações públicas e contratar diretamente fundações ligadas a universidades. Essa parceria com a Finatec permitiu que Luís Lima expandisse seus negócios para todo o País. Começou com um pequeno contrato, no valor de R$ 60 mil, com a prefeitura petista de Araraquara, no interior paulista, e em seguida desembarcou no Recife. A ascensão foi impressionante. Atrás da fachada da Finatec, Lima fechou dois convênios com o prefeito petista João Paulo, num total de R$ 9 milhões. No fim de 2002, a Intercorp chegou ao centro do poder: a equipe de transição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recém-eleito para o primeiro mandato. Lima chegou lá com um programa de computador que deveria facilitar o preenchimento dos cargos no novo governo. Na seqüência, vieram outros grandes contratos com as prefeituras de São Paulo, Fortaleza, Goiânia, Vitória, Nova Iguaçu e com o governo do Piauí, todos sob administração do PT. Eram tantos contratos que a mulher de Lima, Flávia, abriu outra empresa, a Camarero & Camarero, só para receber uma parte dos mais de R$ 20 milhões arrecadados pelo marido entre as administrações petistas até o ano de 2005. A carteira da Intercorp inclui contratos com pelo menos uma prefeitura tucana, a de João Pessoa, Paraíba, em 2001, mas como explicar tanto sucesso nos negócios com petistas? ÉPOCA ouviu mais de duas dezenas de políticos do PT – incluindo atuais e ex-dirigentes nacionais do partido, governadores, parlamentares e prefeitos. Sob a condição de não serem identificados, petistas com profundo conhecimento da máquina partidária disseram que a ordem para contratar Luís Lima vinha “de cima” – de alguém na direção nacional do partido. Mas, depois que os contratos da Intercorp começaram a cheirar mal, ficou mais difícil identificar o padrinho de Lima. Três políticos petistas disseram a ÉPOCA que o sociólogo paraibano Vicente Trevas, um dos fundadores do PT, teria sido o cartão de visita usado por Lima para chegar à equipe de transição e ao universo das prefeituras petistas. Até janeiro de 2003, ele era responsável pela Secretaria Nacional de Assuntos Institucionais do PT, a pessoa encarregada de lidar com os prefeitos do partido. Com a posse de Lula, Trevas foi nomeado subchefe da Secretaria de Assuntos Federativos (SAF) da Presidência da República, também com a tarefa de dialogar com prefeitos, mas agora de todos os partidos. Ao longo do primeiro mandato, trabalhou sucessivamente sob o comando dos ex-ministros José Dirceu, Aldo Rebelo, Jaques Wagner e Tarso Genro, em um gabinete no 4º andar do Palácio do Planalto. Em Brasília e no Recife, políticos que acompanharam as negociações com o prefeito João Paulo disseram a ÉPOCA que Trevas teria mesmo dado uma ajuda a Luís Lima. O assessor de Relações Internacionais do prefeito, Roberto Trevas, é irmão do dirigente petista. Numa entrevista por e-mail a ÉPOCA, Luís Lima admitiu a ligação com Vicente Trevas. ‘É um administrador correto, que conhece nosso trabalho e pode ter-nos recomendado a quem necessitasse”, afirmou. ‘Além do Recife, não tenho informação de que tenha indicado a Finatec para outros órgãos’. Recife pagou R$ 9 milhões à Intercorp, por meio da Finatec. Foram dois contratos assinados em 2002 e um terceiro em 2003. ‘É plausível que eu tenha feito a indicação, mas se o fiz foi como dirigente do PT, antes de assumir o cargo no governo’, disse Trevas. Um graduado dirigente do PT, que esteve no centro da montagem do governo Lula, afirma que Luís Lima não precisava da ajuda de Trevas para entrar na equipe de transição de governo, em 2002. Ele teria outros importantes padrinhos políticos. De acordo com esse dirigente, o principal seria outro gaúcho – o atual secretário nacional de Finanças do PT, Paulo Adalberto Ferreira, também conhecido entre os antigos companheiros do Rio Grande do Sul como Mosquito. Ferreira é um típico quadro da máquina partidária. Começou a militar em movimentos ligados à Igreja Católica, ingressou no PT e se alinhou ao chamado Campo Majoritário – a corrente de Lula, José Dirceu, José Genoino e Ricardo Berzoini, a mais forte em âmbito nacional, mas minoritária no Rio Grande do Sul. Aos poucos, ele foi subindo na hierarquia partidária e hoje ocupa o cargo que até o escândalo do mensalão era de Delúbio Soares. Paulo Ferreira também nega ter indicado Luís Lima para a transição de governo e para a transação com os prefeitos. “Não conheci, não indiquei, não negociei, não me relacionei com Luís Lima ou com sua empresa”, disse Ferreira. Em maio de 2004, ele estava em Barcelona, na Espanha, participando de uma reunião internacional de prefeitos de esquerda. Na lista de presença dessa reunião, obtida por ÉPOCA, há prefeitos e secretários de administrações que fizeram contratos com a Intercorp, com os nomes de Luís Lima s e Flávia Camarero, identificados como representantes da Finatec. “O fato de termos participado de uma reunião com gente do mundo todo não significa que nos conhecemos”, insistiu Ferreira. Luís Lima negou quatro vezes que conheça o conterrâneo. “Jamais tive qualquer encontro com o senhor Paulo Ferreira. Nunca troquei (com ele) telefonema, e-mail ou qualquer coisa parecida”. Vicente Trevas nega ter indicado Lima para a equipe de transição, mas elogia o trabalho que ele fez no Sul. “Eles transformaram a Carris num paradigma (modelo, exemplo) de gestão de transporte público”, afirmou. Paulo Ferreira também tem opinião formada sobre o trabalho da Intercorp. “Eu não os indicaria porque o trabalho deles é muito ruim. O portal que eles fizeram para a transição não servia para nada, era chamado de portal das ilusões”, disse o tesoureiro petista em seu gabinete na sede do partido em Brasília, antes de arrematar: “É uma picaretagem”. Apesar da opinião de Ferreira, a Intercorp foi contratada pelas prefeituras de Fortaleza, Goiânia, Nova Iguaçu e São Paulo quando era ele o responsável pela articulação com as administrações petistas. Em um partido que se vangloria de ter criado políticas municipais inovadoras, como o orçamento participativo e as cooperativas de catadores de lixo, chama a atenção que dois secretários de articulação com os prefeitos tenham opiniões tão distintas sobre uma empresa que prestou serviços milionários. O secretário de Administração de uma das prefeituras que usaram o programa da Intercorp disse a ÉPOCA que o software vendido pela empresa está mais próximo da picaretagem apontada por Ferreira que do paradigma elogiado por Trevas. Trata-se de um sistema baseado em ambiente de internet, em que secretários, gerentes e outros servidores da Prefeitura podem registrar, on-line, o que fizeram no dia. Mediante senha, os funcionários podem acompanhar as atividades de seu setor e de outras áreas da Prefeitura. Dono de uma senha privilegiada, o prefeito tudo vê, promete Lima. Esse Big Brother administrativo não tem nada de revolucionário, segundo o secretário: usaria uma tecnologia tão simples quanto os blogs domésticos que qualquer adolescente pode criar. O trabalho de Luís Lima deixou problemas em várias prefeituras por onde passou. Em São Paulo, uma auditoria interna da Prefeitura reprovou completamente o contrato assinado na gestão de Marta Suplicy, que custou R$ 12,2 milhões ao município. Os pagamentos desse contrato foram suspensos pelo sucessor de Marta, José Serra (PSDB). O atual prefeito, Gilberto Kassab (DEM), concluiu a auditoria e cancelou o contrato, mas não escapou de uma reincidência. Apesar da ficha suja, no fim de 2007 a Prefeitura voltou a contratar a Finatec. Quando o caso veio a público, na semana passada, Kassab cancelou o contrato e responsabilizou pelo erro o secretário de Assistência Social, Floriano Pesaro. No Espírito Santo, o Ministério Público aponta superfaturamento no convênio entre a Intercorp de Luís Lima e a Prefeitura de Vitória, embora o contrato tenha sido aprovado pelo Tribunal de Contas do Estado. Segundo o MP, a Prefeitura teve a opção de contratar a FIA, fundação ligada à Universidade de São Paulo (USP), que pediu R$ 896 mil pelos mesmos serviços. Acabou contratando e pagando R$ 3,5 milhões à Finatec/Intercorp. Em Pernambuco, auditores do Tribunal de Contas apontaram uma série de irregularidades nos três contratos obtidos por Luís Lima, sob a cobertura da Finatec, com a Prefeitura do Recife: as falhas vão da falta de um projeto básico dos serviços à cobrança de preços superfaturados, com o agravante dos valores terem sido definidos pela empresa, e não pela Prefeitura. Os auditores criticaram também a contratação dos serviços diretamente pelo gabinete do prefeito, em vez de pela Comissão de Licitação. ÉPOCA apurou que o prefeito João Paulo tomou essa iniciativa devido a restrições de técnicos da Prefeitura ao convênio. ÉPOCA teve acesso a extratos de movimentações financeiras dos convênios firmados pela Finatec com as prefeituras administradas por petistas. Eles mostram que, mesmo com todo o dinheiro recebido da Finatec, as despesas eram reembolsadas a Luís Lima e seus funcionários eram pagos pela fundação. Os extratos mostram também uma confusão contábil, com constantes transferências de recursos entre contas. Dinheiro do convênio com a Prefeitura de Fortaleza era remetido para o convênio com a Prefeitura de Vitória. Recursos do convênio com Recife eram transferidos para Nova Iguaçu, e assim sucessivamente. Na semana passada, ÉPOCA identificou uma nova porta de acesso de Luís Lima às prefeituras do PT. É o Instituto de Organização Racional do Trabalho (Idort), uma entidade paulista com mais de 76 anos de existência. O relacionamento de Luís Lima com o Idort é igual ao que ele tinha com a Finatec. O Idort foi contratado em 2002 pelo prefeito de Jacareí, São Paulo, Marco Aurélio de Souza, do PT, por mais de R$ 1,2 milhão para fazer uma “reforma administrativa” no município. Oficialmente, era o Idort que prestava o serviço, mas na prática quem tocava o projeto era Eduardo Grin, um alto funcionário da Intercorp e então braço direito de Luís Lima. A Prefeitura de Jacareí divulgou nota que confirmava ser Grin realmente o comandante do projeto, mas como consultor do Idort. Eduardo Grin disse a ÉPOCA que nunca trabalhou para o Idort e na ocasião era funcionário de carteira assinada da Intercorp. O presidente do Idort aumenta ainda mais a confusão. Diz que nunca trabalhou com Grin ou com a Intercorp. Só admite que conhece Luís Lima e Eduardo Grin de encontros em uma universidade. Nem todas as investidas de Luís Lima sobre o PT deram resultado. Em 2004, depois da reunião de Barcelona, ele ofereceu seus serviços à Prefeitura de Belo Horizonte, e foi rejeitado. Segundo um assessor do prefeito petista Fernando Pimentel, a proposta foi considerada cara e inútil. Prefeitos e governadores de vários partidos têm recorrido a um programa de modernização criado pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC). Mantido por grandes empresas privadas, o MBC oferece soluções para aumentar receitas e reduzir despesas. Os governos de Pernambuco (PSB), Minas Gerais (PSDB), Sergipe (PT), São Paulo (PSDB) e a Prefeitura de Porto Alegre (PPS), entre outros, já trabalham com esse programa. Além de eficaz, sai de graça”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu conheço esse cara ele é dono de uma empresa em sampa chamada vikstar.
Um call center que presta serviço para Telefonica