sexta-feira, 2 de maio de 2008

Declaração sobre “QI do baiano” causa revolta

Uma declaração do coordenador do curso de medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Antonio Natalino Manta Dantas, atribuindo o mau resultado da faculdade no Enade “ao baixo QI (quociente de inteligência) dos baianos”, na quarta-feira, causou forte reação da comunidade acadêmica e de representantes do movimento negro da Bahia, que viram racismo nas palavras do professor. A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão na Bahia, ligada ao Ministério Público Federal no Estado, abriu inquérito para investigar suspeita de crime de racismo. A frase de Dantas que mais irritou os baianos foi a de que um dos indicativos da falta de inteligência dos nativos seria o berimbau, “um instrumento para quem tem poucos neurônios, pois só possui uma corda”. Na visão de Dantas, o instrumento não requer muita concentração e habilidade para ser tocado. Ele também atacou o sistema de cotas e o ritmo do Olodum O coordenador da UFBA também insinuou que a política de cotas para negros pode ter contaminado o resultado da faculdade no Enade, e citou o batuque do grupo Olodum como um exemplo de primarismo musical da Bahia. O reitor da UFBA, Naomar Almeida, qualificou a posição de Dantas de “racista e ignorante, demonstra insensibilidade cultural”, além de atingir “todas a propostas de avanços e inclusão da nossa instituição”. E acrescentou: “O teor dos argumentos, é abominável e lamentável. Não é possível que exista hoje no mundo alguém, com uma posição importante numa instituição de ensino, que defenda posições discriminatórias, reacionárias, como essas que o professor emitiu”. José Tavares Neto, diretor da Faculdade de Medicina, acha que “foi uma declaração infeliz”, mas que a repercussão está desviando o assunto do principal problema, a situação que a faculdade se encontra: “Não posso demiti-lo, porque ele foi eleito pelos professores de medicina. O ensino é cada vez pior, e nós sabemos disso desde 2004, quando escrevemos um relatório pedindo providências à reitoria, incluindo a anulação do vestibular daquele ano. As providências foram nulas”. O médico strou, mais uma vez, tecnicamente incapaz para o cargo. A declaração também provocou protestos no Senado. Com apoio dos integrantes da Comissão de Direitos Humanos da Casa e do presidente da instituição, Garibaldi Alves (PMDB-RN), a bancada baiana propôs um voto de censura contra Dantas. O médico Antonio Natalino Manta Dantas: “Não sou racista, se fosse diria. Sou médico, e boa parte das pessoas que atendo é gente de cor. Minha secretária também é. Se fosse racista, não a escolheria. Parece até que eu cometi um crime. Não sou obrigado a gostar de berimbau”.

Nenhum comentário: