quinta-feira, 26 de junho de 2008

Emocionado, Fernando Henrique Cardoso homenageia sua mulher morta, Ruth Cardoso

O velório da ex-primeira-dama e antropóloga Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), reuniu nesta quarta-feira, na Sala São Paulo, em São Paulo, políticos de todos os matizes, empresários e integrantes do meio cultural. O ex-presidente, muito abalado, chegou ao local, sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, por volta das 12h30. Fernando Henrique Cardoso e dona Ruth estiveram casados por 56 anos. Uma bandeira do Brasil cobria parte do caixão aberto. Ficaram ao lado do corpo dois lanceiros do regimento Nove de Julho da Polícia Militar. Fernando Henrique estava acompanhado dos filhos Paulo Henrique e Luciana. Em visita à Espanha, a filha Beatriz viajou para o Brasil ainda na terça-feira à noite e chegará a tempo de comparecer ao enterro marcado para a manhã desta quinta-feira, no cemitério da Consolação, em São Paulo. O velório foi encerrado às 21 horas. O presidente Lula chegou ao velório no final da tarde na companhia da italiana Marisa Letícia e de oito ministros. Entre eles, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que casou o grande dissabor dos últimos tempos a Ruth Cardoso, ao mandar bisbilhotar os seus gastos quando esteve na posição de primeira-dama. Ruth Cardoso morreu, aos 77 anos, na noite de terça-feira em sua residência no bairro de Higienópolis, de arritmia grave decorrente de doença coronariana. Na segunda-feira, havia se submetido a um cateterismo e teve alta à noite do Hospital do Rim. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), disse que dona Ruth era iluminada e que tinha uma relação especial com o ex-presidente: "Conversavam sem precisar de palavras. Eram conversas regadas a um humor muito fino". O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, confirmou o cancelamento das comemorações dos 20 anos do partido que seriam realizadas nesta quarta-feira no Congresso, em Brasília. "Ruth honrava muito o partido e é como se o partido estivesse sem uma de suas cabeças", afirmou ele. O senador Tasso Jereissati (CE) comentou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso precisará muito dos amigos: "A vida deles se complementava, ela era parte fundamental dele”. Também o ex-governador Geraldo Alckmin, candidato a prefeito de São Paulo, comentou sobre o estado emocional do ex-presidente: "Fernando Henrique está extremamente emocionado, a vida deles era de décadas juntos, mas se Deus quiser ele vai superar. O trabalho de Ruth na área social, com o programa Comunidade Solidária, foi precursor de uma rede de proteção social que levou ao Bolsa Família no governo Lula. O programa visava combater a exclusão social”. Também o deputado Fernando Gabeira, do PV, afirmou que Ruth Cardoso modernizou a política de assistência social no Brasil "fazendo com que o governo não fosse apenas um intermediário entre necessitados e a iniciativa privada". Fernando Henrique recebeu ligações de condolências do ex-presidente Bill Clinton, da senadora Hillary Clinton e do rei Juan Carlos da Espanha. O presidente Lula, o governador Serra e o prefeito Kassab decretaram luto de três dias. Ela foi velada desde a manhã desta quarta-feira na Sala São Paulo, na região central da capital paulista, em velório aberto ao público. Durante a madrugada e a manhã desta quinta-feira, apenas a família e os amigos próximos devem acompanhar o velório. O cortejo do corpo sairá às 10 horas até o cemitério da Consolação, onde a ex-primeira-dama será enterrada. No final da tarde desta quarta, a filha do casal que estava na Europa, Beatriz, chegou ao Brasil e foi ao velório. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), decretou luto de três dias no Estado. Após a confirmação da morte, ele foi até o apartamento de Fernando Henrique Cardoso, em Higienópolis, para prestar solidariedade ao ex-presidente. "A Ruth era uma pessoa muito especial, para sua família, para seus amigos, para nosso país. Um exemplo de dignidade, delicadeza, inteligência e carinho pelas pessoas. É uma dor imensa a que sinto nesse momento", disse o governador, durante visita ao apartamento da família: “Os brasileiros ficaram sem a presença de uma mulher generosa, forte e combativa, que sempre sonhou com um país mais solidário, rico e justo. A Ruth Cardoso fará muita falta. Ela era muito querida e presente no partido". Nascida em 19 de setembro de 1930 na cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, Ruth Correa Leite Cardoso foi professora de Antropologia e Ciência Política na USP (Universidade de São Paulo) e pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) em São Paulo. Bacharel em ciências sociais pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, a ex-primeira-dama se casou em 1953 com Fernando Henrique, com quem teve três filhos. Em 1972, recebeu o título de doutora em Antropologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Anos depois, concluiu pós-doutorado na Universidade de Columbia em Nova York e também foi professora em universidades norte-americanas e inglesas. O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), manteve as votações no plenário da Casa nesta quarta-feira mesmo após receber pedido do líder do PSDB, deputado federal José Aníbal, para cancelamento da sessão, para que os parlamentares do partido pudessem ir a São Paulo para o velório de Ruth Cardoso. Mas, Arlindo Chinaglia não se sensibilizou.

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