domingo, 8 de junho de 2008

Ibama multa em R$ 450 milhões a madeireira de "amigo" da floresta

O Ibama no Amazonas aplicou na sexta-feira duas multas no valor total de R$ 450 milhões contra a madeireira Gethal, do empresário sueco-britânico Johan Eliasch. Segundo o Ibama, a madeireira explorou, comercializou e transportou madeira nobre da floresta na região de Manicoré (AM) - 699.809 metros cúbicos ou 230 mil árvores - sem seguir a legislação ambiental brasileira. Ela também não cumpriu acordo firmado com o Ibama. A ação do Ibama ocorre três dias após a divulgação de dados do Inpe indicando um aumento do desmatamento da Amazônia. As multas foram lavradas após conclusão dos processos jurídico e administrativo que tramitavam no Ibama desde 2007, quando a empresa foi notificada. Em 2006, Johan Eliasch se apresentou como dono de 160 mil hectares de floresta que adquiriu em 2005 do grupo GMO Renewable Resources, nos municípios de Itacotiara, Manicoré e Lábrea. O procurador-chefe do Incra no Amazonas, Carlos Alberto de Salles, disse que uma equipe vai levantar em cartórios a situação das terras da Gethal: ela tem de fato 57 propriedades, que somam 121.200 hectares. O gerente administrativo do Ibama, Henrique Pereira, explicou as duas multas contra a Gethal. A primeira, de R$ 350 milhões, é referente à prática de exploração da floresta. Foram desmatados 21.398 hectares de floresta em várias partes: "A empresa será obrigada a fazer a reposição do volume explorado, ou seja, terá que plantar 230 mil árvores". A segunda multa do Ibama, de R$ 100 milhões, foi aplicada pelo descumprimento do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), firmado em 2005 com o órgão ambiental. A madeireira não apresentou as certidões da área de 21.398 hectares em Manicoré nem os certificados de reconhecimento da regularidade e legitimidade dos títulos de propriedade. O TAC é um dos instrumentos mais canalhas já inventados pelo Mistério Público no Brasil. A compra de 160 mil hectares de terra na Amazônia com o pretexto de preservá-la do desmatamento colocou Johan Eliasch entre os líderes de "filantropia verde" do Reino Unido. Com uma fortuna estimada em 400 milhões de libras (cerca de R$ 1,27 bilhão, segundo o ranking dos britânicos mais ricos do jornal "The Times"), é co-presidente da Ong Cool Earth, cuja missão é "lutar contra as mudanças climáticas, protegendo florestas em risco". Casado com a socialite paulista Ana Paula Junqueira, o sueco de 46 anos, nascido em Estocolmo e radicado em Londres, junta as atividades de presidente do império de produtos esportivos Head, banqueiro e produtor de filmes, com a política. Um dos maiores doadores do Partido Conservador no ano passado, deixou o cargo de vice-tesoureiro da legenda em setembro para se tornar conselheiro para assuntos ambientais do primeiro-ministro britânico, o trabalhista Gordon Brown. No Brasil, tem amigos poderosos, como o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), os irmãos empresários João Paulo e Pedro Paulo Diniz e o apresentador Luciano Huck.

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