quinta-feira, 3 de julho de 2008

Resgate foi absolutamente impecável, diz Ingrid Betancourt

Ingrid Betancourt relatou também como foi o seu último dia em poder da organização terrorista e traficante de cocaína Farc. "Esta manhã quando me levantei, às 4 horas, ouvi que minha mãe embarcaria para a França. Que minha filha seguiria para a China, meu ex-marido dizendo que tinha uma foto minha em um monte na França... pensei que não seria dessa vez que eu ia ser libertada", disse. "Depois nos fizeram arrumar nossas coisas, ficamos esperando todo o dia, não sabíamos da libertação. Uma hora antes da chegada do helicóptero, o comandante Asprilla falou comigo e disse que todos subiríamos na aeronave, mas com um chefe das Farc. Perguntei para onde iríamos e ele me disse que provavelmente a outro acampamento, a um cativeiro onde ficássemos melhor e senti um aperto no coração", contou Ingrid. "Ouvimos os helicópteros e olhei para cima, para o céu e pensei: que estranho porque pela primeira vez... cada vez que ouvia barulho de helicóptero sentia o coração acelerado", disse. "Nos fizeram cruzar o rio, chegamos a um lugar, cada refém com um guerrilheiro armado do lado. A guerrilheira que me acompanhava era estranha, pedia para eu andar 'como sempre'”. Ingrid Betancourt continuou seu relato dizendo que quando os helicópteros chegaram, "saíram personagens surrealistas... homens vestidos com distintivos que os certificavam ser delegados de não sei onde. Olhava e pensava: quem são? Que comitiva internacional é essa? Será que nos vão colocar como palhaços em um novo circo? Não quero me prestar a isso", disse. "Depois nos disseram que tínhamos que subir algemados e isso foi humilhante. Os meninos que estão comigo, meus companheiros, militares e policiais, a família que me acompanhou durante esses anos e a quem devo, especialmente a William Pérez que foi meu enfermeiro quando estive muito mal de saúde, a Juan Manuel, por sua audácia, a Uribe, que soube conduzir a situação. Obrigada porque somos colombianos. Nosso exército vai nos levar à paz", desabafou Ingrid. Após entrarem no helicóptero, Ingrid Betancourt e os outros reféns estavam "muito frustrados porque nos colocaram essas algemas. Não queria falar com eles, que nos ofereciam ajuda com nossas coisas e não deixávamos, estávamos muito irritados. Pediram até para que nós colocassemos jaquetas pois iríamos para um lugar frio", relatou. "Quando fecharam as portas do helicóptero e vi o comandante das Farc - que por quatro anos mandou nos reféns, que tantas vezes foi cruel, nos humilhou e foi autoritário - no chão, com os olhos vendados. Não pensem que fiquei feliz, mas pensei que era uma situação lastimável. Mas dei graças a Deus, pois estava com pessoas que respeitam a vida dos outros mesmo quando são inimigos", contou. "Foi quando o chefe da operação nos disse que eles eram do Exército nacional e que estávamos em liberdade. O helicóptero quase cai porque todos pularam, gritaram, choramos e não conseguíamos acreditar", disse Ingrid Betancourt, emocionada. No fim de seu discurso, ela afirmou que a operação era "um orgulho para todos os colombianos, não há antecedentes históricos de um resgate tão perfeito. Talvez Israel possa se assemelhar ao golpe dado hoje", disse. "Não sei se os líderes das Farc sabem o que aconteceu hoje, mas o que eu posso dizer é que eles estão lá, os guerrilheiros que eram nossos carcereiros, nós os deixamos vivos, espero que continuem vivos e que sejam julgados pelo que aconteceu. A operação foi perfeita”.

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