quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Banqueiro Daniel Dantas fala, e muito, na CPI do Grampo

O banqueiro Daniel Dantas, que poderia ter ficado quieto na CPI do Grampo da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira, porque tinha uma liminar do Supremo, decidiu revelar detalhes da Operação Satiagraha, da Polícia Federal, e da negociação para a compra da empresa Brasil Telecom. Daniel Dantas disse que desistiu de usar o habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal porque considerou "positivo" o ambiente montado pelos parlamentares. Ao contrário da postura adotada em seu depoimento à Polícia Federal na semana passada, quando manteve-se em silêncio, Daniel Dantas disse que não sentiu entre os parlamentares a vontade de "deturpar" suas informações. "Na Polícia Federal, eu não tinha o sentimento de que o inquérito tinha o objetivo de averiguar. Tinha o sentimento que aquilo era situação para tentar produzir ou se aproveitar de alguma distorção com ímpeto condenatório", afirmou. Ao ser questionado se seu apartamento na avenida Vieira Souto, no Rio de Janeiro, teria uma "parede falsa" para ocultar documentos sigilosos, Daniel Dantas desafiou a CPI a encontrar qualquer "esconderijo" em sua residência: "Eu não tenho parede falsa no meu apartamento. Eu tenho um armário. Se alguns de vocês quiserem ir até lá, eu convido para ver que não tem parede falsa nenhuma. Se quiser designar uma comissão para ir lá ver, podem avaliar a parede". Na ação de busca e apreensão da Polícia Federal no apartamento de Daniel Dantas, durante a Operação Satiagraha, a Polícia Federal disse que tinha encontrado uma parede falsa com uma sacola reunindo documentos "secretos" do banqueiro. O material reuniria supostamente itens como planilhas com pagamentos de propina a autoridades e movimentações financeiras em contas ilegais fora do País. Daniel Dantas também negou que tenha contratado a empresa Kroll para realizar escutas telefônicas clandestinas com o objetivo de investigar a empresa Telecom Itália, que disputou com o banco Opportunity o controle da Brasil Telecom. "Na verdade, eu não contratei a Kroll. A Brasil Telecom contratou a Kroll, que investigou a Telecom Itália. Nesse processo não tem nenhum grampo telefônico. A Brasil Telecom contratou a Kroll pela sua competência internacional. A Kroll foi a mesma empresa que o Congresso Nacional contratou para investigar desvios na gestão Collor pelo PC Farias", afirmou ele. Daniel Dantas disse que a Brasil Telecom, ao contratar a Kroll, tinha como objetivo descobrir o destino de recursos "desviados" da empresa. "Saíram US$ 800 milhões dos cofres da Brasil Telecom, foram para os cofres da Telefonica da Espanha. O objetivo era investigar se esses recursos teriam parado em destinos ilícitos. Até as investigações serem suspensas, a Kroll não tinha provas de quem teria recebido os recursos", afirmou ele. O banqueiro insinuou que a Telecom Itália foi responsável por grampos telefônicos ilegais no País no processo de venda da Brasil Telecom. "Quem fez grampo ilegal, ao que tudo indica, foi a Telecom Itália, que usou infra-estrutura no Brasil. Isso é alvo de investigação na Itália. Vários agentes da Telecom Italia confessaram que pagaram agentes para produzir escutas telefônicas e invasão de correspondências nossa e de pessoas a nós ligadas", disse o banqueiro. Daniel Dantas disse que contratou o advogado petista Luiz Eduardo Greenhalgh para negociar contratos com fundos de pensão. O ex-deputado teria lhe informado que telefonou para Gilberto Carvalho (chefe de gabinete do presidente Lula) com o objetivo de saber o motivo de Humberto Braz ter sido seguido: "Ele me disse, depois, que tinha ligado para alguém do governo para saber o motivo”. Dantas afirmou que alertou Greenhalgh sobre "rumores" de que a Operação da Polícia Federal poderia ter como objetivo dificultar a venda da Brasil Telecom. "O deputado Greenhalgh trabalhou para nós uns seis meses ou mais. Ele me foi apresentado pelo Guilherme Sodré e poderia ser útil em negociação com fundos de pensão", disse. O banqueiro disse que, apesar de Greenhalgh ter sido contratado para negociar a venda da Brasil Telecom para a Telemar, ficou a serviço da empresa mesmo com o negócio tendo sido fechado pela Oi. No depoimento, Daniel Dantas acusou o diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Paulo Lacerda, de ter articulado a Operação Satiagraha com o objetivo de prejudicá-lo em represália a um suposto dossiê que Dantas teria divulgado contra o ex-diretor da Polícia Federal. Daniel Dantas também disse que, em conversa com o delegado Protógenes Queiroz, na primeira vez em que foi preso pela Operação Satiagraha, este teria manifestado a intenção de investigar o filho do presidente Lula no âmbito da operação. O banqueiro disse que Protógenes lhe afirmou, na conversa, que "ia até o fim" na Operação Satiagraha para apurar irregularidades, o que incluía a investigação sobre o filho do presidente, Fabio Luís Lula da Silva, conhecido como Lulinha. A Telemar injetou R$ 5 milhões na empresa Gamecorp, de propriedade de Fabio Luís. Em 2004, a Telemar investiu o montante para se tornar sócia minoritária da Gamecorp. O valor correspondia a 96% do capital social da empresa, que era de R$ 5,2 milhões. O banqueiro negou qualquer relação administrativa ou financeira com o filho de Lula: "Não conheço o filho do presidente Lula, apesar da mídia ficar circulando de que ele é meu sócio em atividades perdulárias. Ele não é meu sócio em nada”.

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