quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Grampos da Polícia Federal lançam suspeita sobre genro de Lula e deputado federal petista

Flagrados em grampos da Operação Influenza, da Polícia Federal, o deputado federal Décio Lima (PT-SC) e Marcelo Sato, genro do presidente Lula (casado com sua filha Lurian, e chefe de gabinete da líder da bancada do PT na Assembléia Legislativa de Santa Catarina), tiveram que dar explicações na segunda-feira para conversas mantidas com o empresário Francisco Ramos, proprietário da Agrenco do Brasil S.A e um dos 24 presos por fraudes no Porto de Itajaí, em 20 de junho. Sobre Ramos recaem suspeitas de patrocinar vantagens (computadores, hospedagens em hotéis e jatos fretados, conforme revelado pelo jornal Diarinho, de Itajaí, e pelo Jornal de Santa Catarina, de Blumenau) em troca da interferência da dupla junto a órgãos federais. A ação da Polícia Federal está comprovada por trechos de gravações telefônica em que Francisco Ramos justifica a aquisição de dois notebooks: "Um pro Décio (Lima) e um pro (Marcelo) Sato". Questionado sobre a frase, o próprio empresário esclarece: “O cara (não especifica se está falando de Sato ou de Lima) me põe na frente do presidente, do ministro... Ele vem com essa indireta. Sou obrigado a comprar”. Além de agrados tecnológicos, Décio Lima ainda voou em jatinhos fretados por Ramos, como comprovam fotos registradas por agentes federais no momento em que o parlamentar embarcava na aeronave. Além disso, o inquérito reproduz uma troca de e-mails entre as secretárias da Agrenco e do gabinete do deputado federal petista Décio Lima informando horários de vôos e locais de embarque e desembarque do parlamentar, em avião fretado, do aeroporto de Navegantes para Brasília. A Agrenco diz como serão os detalhes vôo, com a observação: “Avião fica esperando sr. Décio Lima terminar compromisso”. Já com o genro de Lula, Marcelo Sato, a conversa é sobre a hospedagem em um hotel. Em 17 de abril de 2008, às 11h18min, Sato pergunta em gravação telefônica a Ramos se pode deixar “um hotel reservado para nós”. Documento da Polícia Federal aponta que foram reservadas duas vagas em um hotel para o genro de Lula, mas não especifica em que cidade é a hospedagem. A investigação da Polícia Federal sustenta que o marido de Lurian Cordeiro Lula da Silva, filha do presidente, e o parlamentar petista, facilitaram o acesso do empresário a órgãos do governo federal entre 10 de dezembro de 2007 e 6 de janeiro deste ano. Além do deputado federal petista Décio Lima, o relatório cita Jefferson Reichel, assessor do parlamentar. Parte das interceptações revela que Ramos, ao fazer contato com Décio Lima, Marcelo Sato e Reichel, tinha interesse de agilizar processos que envolviam a Agrenco no governo federal. Ramos era o principal acionista da empresa, que almejava produzir biodiesel em Caarapó (MS). Para tanto, segundo o relatório da Polícia Federal, Ramos contou com a ajuda do trio em contatos com o Ibama, Agência Nacional do Petróleo e Receita Federal. De acordo com o relatório da polícia, Décio Lima recebeu pedido da Agrenco para que a Resolução 41 de 2004 da ANP fosse adaptada a fim de autorizar a produção de biodiesel pela empresa. Depois do contato, a Agrenco conseguiu a licença para operação da indústria. A Polícia Federal cita ainda o fato de que a Agrenco doou R$ 170 mil para a campanha do petista Décio Lima nas eleições de 2006. A exportadora de grãos é suspeita de, entre outras irregularidades, simular negócios com produtores de soja, comprando carregamentos que não existiam.
Leia a seguir trechos dos telefonemas e e-mails gravados durante a Operação Influenza, da Polícia Federal:
1º/4/2008, às 11h25min, ligação entre Chico Ramos e Décio Lima:
Ramos - Esse assunto, estamos com aquele documento pendente na Receita Federal para a gente poder se qualificar e vender biodiesel no leilão, tô apavorado.
Décio - Da agência ainda?
Ramos - Da Receita Federal, tenho que ter o certificado da Receita Federal para poder depois conseguir o selo definitivo no MDA.
Décio - Manda alguém passar um e-mail para mim hoje para eu entender direitinho com quem tenho que falar.
Ramos - O Jefferson tá cuidando de tudo para mim aí, tá tudo com ele.
Décio - Eu vou atrás do Jefferson, pode deixar.
18/12/2007, às 15h42min, ligação entre Chico Ramos e Marcelo Sato
Ramos - Preciso de um favor, conseguimos as licenças ambientais, tudo que precisava para entregar na ANP para conseguir autorização para rodar a fábrica de biodiesel depois de amanhã. Hoje vai ter reunião no Rio de Janeiro para apreciar as licenças. Nosso processo está na área jurídica da ANP, preciso que você fale com diretor jurídico ou presidente para jogar para apreciação.
Sato - Não tá na pauta?
Ramos - Não. Faz pedido especial.
Sato - Estou ligando agora.
25/3/2008, e-mail de Jefferson Reichel a funcionária da Agrenco:
Assunto: RPA
Bom dia, Ana!
Tem alguma notícia do meu pagamento, até hoje não apareceu.
Abraço, Jefferson
19/12/2007, às 11h08min, conversam um homem identificado como Jean e Chico Ramos. A transcrição deste diálogo foi feita de forma indireta pelos policiais federais
Ramos - Quer saber se o Fernando mandou comprar dois computadores, um para o Décio, outro para o Sato.
Jean - Diz que mandou uma solicitação de adiantamento na conta do Carlinhos, foi feito ontem. Fala que vai ser feito na quinta-feira, porque o Sergio Okogawa não autorizou.
Ramos - Diz que é pra avisar que pediu para fazer imediatamente. Se ele tiver dúvida que ligue, é pra fazer hoje. Chico comenta que “o cara me põe na frente do presidente, do ministro, ele vem com essa indireta... Sou obrigado a comprar.”
24/12/2007, Às 11h13min, Ramos conversa com um homem identificado como Carlos
Ramos - Chegou o computador do nosso amigo Décio?
Carlos - Não, vou ver agora.
17/4/2008 - Às 11h18min, Marcelo Sato pergunta em gravação telefônica a Chico Ramos se pode deixar “um hotel reservado para nós”.
Documento da Polícia Federal aponta que foram reservadas duas vagas em hotel para Marcelo Sato, mas não especifica em que cidade é a hospedagem.
26/10/2007 - O relatório da Polícia Federal reproduz a troca de e-mails entre as secretárias da Agrenco e do gabinete de Décio Lima informando horários de vôos e locais de embarque e desembarque do deputado, em avião fretado, de Navegantes a Brasília. A Agrenco diz como serão os detalhes vôo, com a observação: “Avião fica esperando sr. Décio Lima terminar compromisso”.