segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Presidente da Procergs recebe mesadão da Federasul

A edição da revista Veja que está nas bancas publica matéria sobre o mensalão recebido pelo empresário Ronei Ferrigolo, presidente da Procergs (Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul). Conforme a matéria da revista Veja, o mensalão é de R$ 15.000,00. Ele era pago mensalmente ao empresário Ronei Ferrigolo, pelo presidente da Federasul, José Paulo Dorneles Cairoli, que admitiu isso para a revista Veja, apenas ressaltando que o pagamento seria para uma “consultoria”. Só faltava essa, o presidente da Federasul achar que os gaúchos são analfabetos.... Em tempos de Rodin, essas explicações não colam mais. Na noite do dia 3 de setembro, o editor de Videversus, jornalista Vitor Vieira, ligou para o celular do presidente da Federasul, José Paulo Dorneles Cairoli e perguntou se esta entidade presidida por ele (Federação das Associações Comerciais do Estado do Rio Grande do Sul) estava servindo para fazer a “complementação salarial” do empresário Ronei Ferrigolo na presidência da Procergs. Ferrigolo é um dos vice-presidentes da Federasul e coordenador da Divisão de Tecnologia da entidade. E até as paredes dos estádios Beira Rio e Olímpico, em Porto Alegre, sabem que ele foi indicado pela Federasul para exercer o cargo na estatal. A outra ponta da indicação é o PMDB, seu partido, onde tem forte proteção de nomes importantes. Cairoli produziu um veemente desmentido ao telefone para o jornalista Vitor Vieira, na matéria que foi postada no blog Videversus (http://www.poncheverde.blogspot.com/) às 4h57m do dia 4 de setembro, uma quinta-feira. A matéria tem o seguinte teor: “Cairolli nega que Federasul contrate empresas de Ronei Ferrigolo - O presidente da Federasul (Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul), executivo José Paulo Dorneles Cairoli, negou na noite desta quarta-feira que sua entidade tenha alguma vez contratado as empresas Citale ou Cofattore para a prestação de serviços à Federasul. Também negou que tenha recebido contribuições mensais das empresas Paramount e CBS Alimentos, no valor de 15 mil reais. Ele confirmou que, na entidade que presidente, todos os diretores pagam para exercer o cargo. Mas, disse desconhecer que a contribuição diretiva do empresário Ronei Ferrigolo, presidente da Procergs (Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul) foi paga por um CC (cargo em comissão) de Ferrigolo. José Paulo Dorneles Cairoli também negou, peremptoriamente, que tenha sido o responsável pela indicação do empresário Ronei Ferrigolo para a presidência da empresa estatal Procergs. Disse ele: ‘É óbvio que não’. O que parece ‘óbvio’ é que o empresário Ronei Ferrigolo deve ter sido indicado por si mesmo para o cargo de presidente da Procergs, já que os supostos autores da indicação negam. A outra fonte apontada como ‘indicadora’ do empresário Ronei Ferrigolo, o PMDB, também nega peremptoriamente que tenha feito a indicação, o que foi afirmado para o editor de Videversus, jornalista Vitor Vieira, pelo presidente do PMDB em Porto Alegre, deputado estadual Luiz Fernando Salvadore Zachia. Mais do que isso, ele mandou abrir um processo ético no PMDB de Porto Alegre visando a expulsão do partido do empresário Ronei Ferrigolo. A representação pedindo a expulsão de Ferrigolo foi assinada por Luis Carlos Leivas, ex-chefe de gabinete do governo Germano Rigotto (PMDB)”. Como se vê, José Paulo Dorneles Cairoli tem duas palavras, uma para Videversus (no dia 3 de setembro) e outra para a revista Veja . Na entrevista que deu para a RBS TV, ele confirmou ao vivo e a cores que a Federasul pagou serviços de consultoria para o empresário Ronei Ferrigolo. É fantástico como ele mudou de versão em três semanas. De qualquer forma, esse era um assunto que Videversus já tinha antecipado, e que toda a mídia gaúcha tinha silenciado, não mostrando interesse em investigar o caso. Ronei Ferrigolo é dono da empresa Citale Segurança em Tecnologia, que funciona em um prédio luxuoso da rua Mostardeiro, nº 366, no conjunto 51, no elegante bairro do Moinhos de Vento. Essa empresa Citale representa a multinacional Módulo. A Citale vendeu e continua vendendo produtos da Módulo para órgãos do governo do Estado do Rio Grande do Sul, sempre sem licitação. Ou seja, o empresário Ronei Ferrigolo desempenha dupla função, enquanto presidente da Procergs, a de vendedor e comprador ao mesmo tempo. Quando assumiu a presidência da Procergs, o empresário Ronei Ferrigolo tratou de encenar o mesmo teatrinho que já havia feito durante o governo Germano Rigotto (PMDB). Ou seja, naquela época, para assumir uma diretoria, ele simulou a saída da propriedade da empresa Processor, passando o controle da mesma para o seu laranja, o seu próprio pai. E a Processor acabou beneciada ao ganhar um contrato guarda-chuva para vender softwares e licenças da Microsoft para todos os órgãos do governo do Estado do Rio Grande do Sul (administrações direta e indireta). Foi o chamado presente de “filho para pai”. O Ministério Público Especial junto ao Tribunal de Contas, por meio do procurador Geraldo Costa da Camino, já está investigando este caso. Agora terá que ampliar a sua investigação. No caso da Citale, ele repetiu o teatrinho. Passou parte do controle da empresa (que estava em seu nome pessoa) para um sócio, mas manteve o controle majoritário por meio da outra empresa acionista, a Coffatore, de sua integral propriedade. E que funciona no mesmo lugar da Citale. O empresário se julga um gênio. Ele dá aula de segurança da informação na PUC. Porém, durante sua gestão na presidência da Procergs, o site Videversus teve seu banco de dados do sistema de envio da newsletter invadido por hacker e foi destruído. O site Videversus estava em um servidor junto a outros cerca de 1.000 sites que nada sofreram. Videversus foi o primeiro veículo de comunicação do Rio Grande do Sul a apontar os desmandos do empresário Ronei Ferrigolo. Os problemas começaram com a publicação de uma entrevista que ele deu para o editor de Videversus, jornalista Vitor Vieira, no dia 5 de outubro de 2007 (há quase um ano), anunciado seus planos de privatizações na Procergs e modernização, que incluía um amplo processo de demissão de funcionários. As privatizações envolveriam a venda do provedor de Internet da companhia, o Via-RS (pioneiro no Rio Grande do Sul, e que tem cerca de 60 mil usuários); a terceirização do data-center da estatal (com a passagem do controle de bancos de dados estratégicos para a iniciativa privada, o que é de grande interesse da Federasul) e a venda do único produto rentável da companhia, o sistema de entrega de expedientes judiciais para os advogados gaúchos. O PMDB do Rio Grande do Sul tratou de colocar panos quentes e bem escuros sobre o processo ético para a expulsão do empresário Ronei Ferrigolo do partido. No dia 10 de agosto do ano passado, Videversus publicou a seguinte matéria: “Peemedebistas gaúchos pedem a expulsão de Ronei Ferrigolo do partido - Luiz Carlos Leivas Mello, chefe de gabinete do ex-governador Germano Rigotto (PMDB), à frente de um grande número de peemedebistas, entra nesta terça-feira com o pedido de expulsão do partido do presidente da Procergs (Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul). Mellinho (como é conhecido) diz que o motivo é bem simples: “Ferrigolo não representa o partido e não pode ficar falando pelo partido. O PMDB é contra privatizações e não aceita o que ele diz”. A situação é um desdobramento da matéria publicada por Videversus na última sexta-feira. Em entrevistaao site Videversus, Ronei Ferrigolo anunciou que o plano estratégico para a gestão da companhia, que ele está finalizando até o dia 16 de novembro, junto com o secretário da Fazenda, Aod Cunha de Morais Junior, e o Diretor da Despesa, Mateus Bandeira, prevê a privatização parcial da Procergs, com a venda de ativos da companhia, como o Via-RS (provedor de Internet do governo, pioneiro no Rio Grande do Sul); a entrega do Data Center também para a iniciativa privada (empresa privada se encarregaria da armazenagem, processamento e segurança de dados sigilosos contidos nas base estratégicas do Estado, tais como os prontuários da Polícia Civil, cadastro de contribuintes do ICMS, folha de pagamento do funcionalismo, etc...); venda do produto “Notas de Expediente”, entre outros. O presidente do PMDB de Porto Alegre, Antenor Ferrari (ex-presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul), também já se declarou com firmeza nesta segunda-feira para Videversus: “Nós não aprovamos estas iniciativas que estão sendo propostas pela presidência da Procergs. O PMDB não manteve a discussão interna sobre privatização de serviços públicos estatais, nem foi solicitado a isso. Mas, o PMDB é contra as privatizações na Procergs”. Antenor Ferrari também informa que Ronei Ferrigolo não ocupa cargo na presidência da Procergs indicado pelo PMDB: “Ele não foi indicado pelo partido. Ele também não faz parte do núcleo de peemedebistas da Procergs, e tampouco faz parte do grupo técnico que elabora planos de governo do partido”. Ronei Ferrigolo é um neófito em termos de PMDB. Sua única experiência político-partidária era no minúsculo e inexpressivo PHS (Partido Humanista da Solidariedade). Sua ficha no PMDB é bem recente, ele foi filiado pela mão do ex-presidente da Procergs, Carlos Alberto Pacheco de Campos, no dia 12 de setembro de 2005”. O fato de ninguém no PMDB gaúcho se mover para que este processo tenha andamento sugere que o peso do setor da informática, com seus muitos milhões de reais, capazes de azeitar campanhas eleitorais, pode ter influência nesse sentido. A matéria de Veja também citou o caso do secretário Geral de Governo do Estado do Rio Grande do Sul, economista Erik Camarano. Mas, no caso dele, parece que a situação é diametralmente oposta à do empresário Ronei Ferrigolo. Em primeiro lugar, é preciso ressaltar um fato: desde o primeiro momento da circulação da notícia, o secretário Camarano fez questão de vir a público para esclarecer a situação, enquanto Ferrigolo se escondeu o tempo todo. Erik Camarano informou que, quando assumiu o cargo no governo, desfez qualquer vínculo que ele e sua empresa de consultoria tinham com a Pólo RS, uma ONG mantida por empresários gaúchos, cujo objetivo é encontrar oportunidades para o desenvolvimento do Estado. Antes de ser secretário, Erik Camarano detinha cargo em comissão (CC). E qualquer CC pode ter outros contratos de trabalho fora do governo do Estado, desde que não receba pagamentos de uma segunda fonte pública. Portanto, tudo legal. Mas, definitivamente, não é o mesmo caso de Ferrigolo, que se apresenta como indefensável.