quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Mortandade de peixes no Rio dos Sinos completa dois anos, sem ninguém punido

A Secretaria de Habitação, Saneamento e Desenvolvimento Urbano (Sehadur) do Rio Grande do Sul entregou nesta terça-feira, ao Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfico do Rio dos Sinos (Comitesinos) um plano de saneamento para a Bacia do Rio dos Sinos. Desde a tragédia ambiental que no dia 7 de outubro de 2006 matou cerca de cem toneladas de peixes, pouco foi feito para solucionar o problema da poluição no rio. A presidente da Fepam, Ana Pelini, disse nesta terça-feira que aquela tragédia resultou de uma combinação: dois terços de culpa dos municípios ao longo do Rio dos Sinos, que jogam esgoto in natura nas águas, e um terço culpa das empresas localizadas junto ao rio, que jogam seus detritos industriais nas águas. Esse é um discurso calamitoso. Ana Pelini faz todo o esforço para não investigar as verdadeiras causas da tragédia ambiental que se abateu sobre o Rio dos Sinos no dia 7 de outubro de 2006. O criminoso derramamento de chorume da Utresa levou para as águas da bacia um componente altamente perigoso, chamado “ascarel”. Trata-se de um óleo que era usado para resfriamento de transformadores de energia, altamente cancerígeno e teratogênico. Ela sabe disso. O secretário de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul também sabe disso. Os dois são desafiados a responder a uma pergunta: por que ninguém quer aceitar o chorume oriundo da famigerada Vala 7 da Utresa para dar tratamento final ao mesmo? Ninguém aceita pela simples razão de que é altamente cancerígeno. Por que ninguém entre as autoridades responsáveis pelo meio ambiente no Rio Grande do Sul determina a realização de uma auditoria na famigerada Vala 7 da Utresa, ordenando a colheita de amostras a cada um metro, até alguns metros abaixo de seu piso? Não será por que essas autoridades têm medo de que ali sejam encontrados dezenas de milhares de galões enterrados com ascarel? Por que o promotor de Estância Velha, apesar de todos os indícios no inquérito que investigou a tragédia do 7 de outubro de 2006, não mandou examinar as amostras das águas para verificar a presença de ascarel? E não vale exame feito em laboratórios gaúchos, porque eles não estão aptos a identificar ascarel. Por que o promotor não mandou fazer uma auditoria na famigerada Vala 7 da Utresa, determinando a colheita de amostras a cada um metro, até cinco metros abaixo do piso da vala? Por que o promotor de Estância Velha, apesar de todos os gritantes indícios, não mandou coletar amostrar para apurar que diabo de lixo vinha da Europa e era enterrado ali na Vala 7 da Utresa, transportado em caminhões paraguaios que apanhavam os contêineres no porto de Paranaguá, onde há um cais paraguaio, isento de fiscalização? Por que o promotor de Estância Velha não investigou e não indiciou o seu “fraternal amigo” Jaime Schneider, “mesadeiro” da Utresa, da qual recebia mesada de cinco mil reais, ao mesmo tempo em que era secretário municipal de Planejamento da prefeitura de Estância Velha? Como se vê, dois anos depois de uma das maiores tragédias ambientais do País, muita coisa da maior importância está por ser investigada. E tem mais, a tragédia está se repetindo todos os dias, só de que maneira insidiosa, não perceptível, e nem por isso menos perigosa.