sábado, 4 de outubro de 2008

Pacote passa na Câmara dos Representantes dos EUA, vira lei, mas não tranqüiliza mercados financeiros

A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou na sexta-feira o plano de resgate de US$ 700 bilhões destinado a salvar as instituições financeiras; duas horas depois, o presidente George W. Bush já havia assinado o texto, transformando-o em lei. Mas, nem mesmo assim a aprovação tranqüilizou os mercados acionários, que registraram queda. A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) fechou a semana com forte baixa de 3,53% e desceu para os 44.517 pontos, o nível mais baixo desde 28 de março de 2007, enquanto o dólar atingiu seu preço mais alto em 13 meses. A Bolsa de Nova York perdeu 1,50% no índice Dow Jones. "A retomada da confiança, o retorno do crédito e a melhora dos mercados deve ser gradativa e não deve conseguir evitar uma desaceleração mais forte e prolongada das economias desenvolvidas, com impactos para as economias emergentes", avalia Miriam Tavares, diretora da corretora AGK. A aprovação do projeto coloca na mão do secretário do Tesouro norte-americano, Henry Paulson, US$ 700 bilhões para tentar reverter a crise que começou nos Estados Unidos e abala o mercado financeiro mundial. Paulson agora tem a anuência do Congresso para comprar um artigo conhecido por um nome pouco atraente: títulos "podres", ou papéis cujo resgate é muito improvável, cujo risco de calote é alto. A maioria destes ativos são ligados às hipotecas "subprime" (de alto risco), raiz da crise financeira que atinge os Estados Unidos. O FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgou documento no qual considera que o que começou como uma turbulência financeira há pouco mais de um ano, se tornou uma "crise intensa", que deve atingir duramente a economia dos Estados Unidos. O ciclo que se fechou na sexta-feira foi iniciado pelo próprio secretário do Tesouro no dia 19 do mês passado, ao dizer que seriam precisos "centenas de bilhões de dólares" para impedir que fosse adiante uma seqüência que, até então, incluía a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, a venda do Merrill Lynch a preço de ocasião (US$ 50 bilhões) ao Bank of America e ajudas bilionárias à seguradora AIG (US$ 85 bilhões) e às gigantes hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac (US$ 200 bilhões). O pacote foi apresentado pelo governo, em sua primeira versão, no dia 20 de setembro: um documento vago, de três páginas, em que eram solicitados US$ 700 bilhões sem mencionar o compromisso de prestação de contas. A idéia não agradou o Congresso, que então colocou em marcha um processo de negociação intenso, ao longo do qual ainda tombaram o Washington Mutual, no que analistas definiram como a maior falência de um banco nos Estados Unidos, e o Wachovia, quarto maior banco do país, que na sexta-feira anunciou a fusão com o Wells Fargo, em uma operação de US$ 15,1 bilhões em troca de ações.