terça-feira, 7 de outubro de 2008

Prejuízos e nacionalizações marcam crise financeira na Europa

Prejuízos de bilhões de dólares e necessidade de intervenção governamental para evitar quebras em série em instituições financeiras, que poderiam acelerar uma recessão em escala global, são os efeitos da atual crise financeira entre os bancos europeus. O mercado imobiliário dos Estados Unidos viveu um "boom" logo após a crise das empresas "pontocom", em 2001. A expansão no mercado imobiliário acabou por chegar a um nicho ainda não explorado: o de clientes "subprime", que representava um risco maior de inadimplência e que, por isso mesmo, prometia retornos mais altos. Esses retornos atraíram instituições norte-americanas e estrangeiras, que compraram esses títulos "subprime" das companhias hipotecárias e permitiram que uma nova quantia em dinheiro fosse emprestada, antes mesmo do primeiro empréstimo ser pago. Esse sistema gerou uma cadeia de venda de títulos. Em um mercado financeiro cada vez mais integrado (resultante da globalização nos últimos anos), o efeito do não-pagamento de um empréstimo na ponta (quem toma o empréstimo) gera um ciclo de não-recebimento por parte dos compradores dos títulos. Isso cria uma desconfiança generalizada que se espalha por praticamente todas as categorias de crédito. O resultado é uma relutância cada vez maior por parte das instituições financeiras em oferecer crédito, e o reflexo dessa desconfiança é a paralisia em curso nos mercados financeiros. Muitas das instituições européias hoje beirando a falência acabaram assim com papéis "podres" (de resgate muito improvável, ou seja, sob sério risco de calote) em suas reservas, adquiridos de instituições norte-americanas. Um dos primeiros passos logo no início da dança da crise foi a decisão do banco francês BNP Paribas, em agosto de 2007, de congelar cerca de 2 bilhões de euros em fundos, citando as preocupações sobre o setor de crédito "subprime" (de maior risco) nos Estados Unidos. Até então, um termo que não ocupava tanto espaço no vocabulário do mercado financeiro. A Federação Européia de Bancos considerou o sistema bancário europeu sólido o bastante para passar pela crise financeira e garantir as economias de seus clientes. A vítima mais recente entre as instituições européias atingidas pela crise foi o banco hipotecário alemão Hypo Real Estate (HRE). O governo alemão, em parceria com outros bancos privados, fecharam um pacote de 50 bilhões de euros (cerca de US$ 69 bilhões ou R$ 141,3 bilhões) para salvar o Hypo. Além disso, a chanceler alemã, Angela Merkel, sinalizou com uma garantia do governo a todos os depósitos bancários no país, que chegam a 568 bilhões de euros (cerca de R$ 1,5 trilhão). O governo alemão tenta, assim, se mobiliza para tentar evitar que a crise financeira se transforme em uma crise econômica. Mas, esta crise econômica já está às portas da França e da Irlanda, e os dois países vivem em recessão há dois trimestres. O suíço UBS, um dos primeiros e dos mais atingidos pelos efeitos da crise, teve no segundo trimestre deste ano um prejuízo de US$ 328,45 milhões, ligado ao setor de créditos "subprime" e já cortou 6.000 empregos desde o ano passado. No Reino Unido, o Northern Rock, uma das principais instituições hipotecárias do país, foi nacionalizado neste ano. O britânico Bradford & Bingley (B&B), uma das grandes operadoras de hipotecas do país, também foi nacionalizado, com parte de suas operações vendida ao espanhol Santander. Bélgica, França e Luxemburgo também se uniram para salvar o banco franco-belga Dexia, com uma injeção de US$ 9,2 bilhões. O grupo bancário e de seguros belgo-holandês Fortis também se viu em meio a problemas causados perla crise. As ações do banco já caíram mais de 70% neste ano. Autoridades financeiras da Holanda, Bélgica e Luxemburgo anunciaram a nacionalização de parte do grupo, colocando cerca de US$ 18 bilhões para evitar o colapso da instituição. Os governos dos quatro países europeus do G8 (Alemanha, França, Itália e Reino Unido) chegaram a um acordo para processar os responsáveis de bancos que precisem de ajudas públicas. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e dos primeiros-ministros do Reino Unido, Gordon Brown, e da Itália, Silvio Berlusconi, apelaram para uma "cúpula internacional o mais breve possível com os Estados mais interessados na reforma do sistema financeiro mundial". A reforma que pretendem ver efetuada envolve a regulamentação de todas as instituições envolvidas com o sistema financeiro, e não só os bancos; uma modificação das normas contábeis para evitar bolhas especulativas; um controle político mais presente das instituições internacionais encarregadas de regular os mercados para garantir a coerência de suas ações; e a criação, em tempos de crise, de um grupo de trabalho entre supervisores do mercado, bancos centrais e Ministérios de Finanças.