segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Paulo Renato de Souza, o anti-Unamuno

O deputado federal Paulo Renato de Souza (PSDB-SP) espera que, no futuro, o País conclua que o critério racial para estabelecer cotas nas universidades federais é errado e se decida a manter na lei apenas o critério de renda para ampliar o ingresso de alunos de grupos sociais desfavorecidos. Na semana retrasada, o deputado federal do PSDB, ministro da Educação no governo Fernando Henrique, ex-reitor da Unicamp, ex-secretário da Educação do Estado de São Paulo, fechou um pusilânime acordo com o PT para juntar dois projetos e aprovar um modelo de cota social acoplado à fixação de cotas raciais para as universidades federais. Paulo Renato de Souza recebeu duras críticas do sociólogo Demétrio Magnoli, em artigo publicado na última quinta-feira no jornal O Estado de S. Paulo, por causa do acordo fechado com o PT. Ele acusou Paulo Renato de Souza de participar de "um conluio" para aprovar o projeto. "É uma questão objetiva política. Esse projeto seria aprovado de qualquer maneira", alegou o pusilânime deputado tucano paulista. Ele reitera que não mudou de posição e diz que, com o acordo, conseguiu incluir no projeto do governo o critério de renda. Esse item constava de um projeto seu que iria a voto, mas tinha chances remotas de aprovação, já que o governo tem ampla maioria na Câmara. Diz Paulo Renato de Souza: “Acho o artigo do Demétrio Magnolli descontextualizado, injusto e agressivo. Minha história nunca foi de racismo ou de privilegiar qualquer corte racial em políticas que eu tenha implementado. Quando assumi o Ministério da Educação, nós tínhamos 13% das crianças fora da escola. Entre os mais pobres, 25% estavam fora da escola e 20% eram negros. A política de ações afirmativas que eu implantei não tinha a ver com cotas. Criei um programa de apoio a cursos pré-vestibulares voltados para os mais pobres. Esse tipo de ação afirmativa é mais importante que as cotas. Incluímos negros como nunca na escola”. Ele tenta explicar porque mudou de posição agora: “Havia uma proposta, já aprovada no Senado, que estava pronta para ser votada no plenário da Câmara. E uma proposta exatamente igual, aprovada na Câmara há mais de dois anos, de cuja elaboração eu não participei, que também estava pronta para votar. As duas propunham uma cota de 50% para alunos da escola pública e, dentro dos 50%, cota racial, na proporção de cada raça no Estado em que se situar a universidade federal. Minha emenda era diferente. Ela propunha cota de 50% para alunos de escolas públicas e, dentro dos 50%, metade seria reservada para alunos de famílias com renda até três salários mínimos. Poderíamos ter ido a voto. Na semana passada, recebi uma proposta do PT, que sugeria um entendimento, porque eles também simpatizavam com a idéia da cota por renda. Fizemos um acordo, a lei fixaria 50% das vagas para alunos da escola pública, entrando a metade por critério de renda e, dentro da renda, virá o critério racial”. Paulo Renato de Souza é mais um desses ingênuos, ou que se faz passar por ingênuo, que ainda acredita que é possível fazer um acordo correto com o PT. Afinal de contas, Paulo Renato de Souza acredita que a sociedade brasileira é dividida por raças? Ele acha que existem raças entre os homens ou existe apenas a espécie humana, como define a moderna biologia? Ele responde: “Essa questão é muito mais para a antropologia do que para a política. Que todos são seres humanos, é óbvio. Mas também é óbvio que a própria Igreja Católica, há pouco mais de 100 anos, considerava os negros como animais. Isso nós não podemos desconhecer. Essa questão tem de ser tratada do ponto de vista objetivo”. O tipo de resposta diz tudo. E ele foi reitor de uma das principais universidades brasileiras. É por isso, sem dúvida, que a educação brasileira chegou ao ponto em que chegou, porque está dominada por homens de pensamento pusilânimes e metidos a pragmáticos, achando que nisso há um grande valor. Imaginem se Miguel de Unamuno tivesse calado sua boca diante do bestial general franquista Millán-Astray, que fazia um discurso em exaltação da morte. Unamuno disse: “Viva a vida. Vencereis, mas não convencereis”. Paulo Renato de Souza é o anti-Unamuno. Diz o jornalista Reinaldo Azevedo, em seu blog no site da revista Veja (http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/): “O deputado Paulo Renato (PSDB-SP), parece-me, está confuso. E, entendo, colabora de modo decidido para a tentativa de oficialização do racismo no Brasil. Não contente em fazer tolices, resolveu também dizer tolices, a exemplo desta: ‘Mas também é óbvio que a própria Igreja Católica, há pouco mais de 100 anos, considerava os negros como animais”. Não considerava, não. Não é questão de gosto, e sim de fato. Mas o que me intriga é o seguinte: se ele não acredita que a sociedade seja dividida em raças, por que, então, participa de um acordão que divide a sociedade... em (supostas) raças? Entende-se, na sua resposta, que teria optado pelo que considera o mal menor. De fato, política é negociação. Mas quem negocia princípio rebaixa a política a acordo de compadres ou a jogos de salão. Na entrevista que concedi ao jornal O Estado do Paraná, ironizei essa mania que os tucanos têm de disputar espaço com a esquerda, para depois receberem como prêmio um pé nos fundilhos. O deputado só fez essa lambança entre convicção e ação, ademais, porque o PSDB não tem uma posição a respeito desse assunto e, quando tem, parece não diferir muito da proposta racialista, ficando a reboque da militância petista”.

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