quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Zero Hora mostra lobismo de investigados para nomeação do coronel Mendes

A edição de Zero Hora que circula nesta quinta-feira traz matéria da jornalista Adriana Irion mostrando como foram os movimentos para a nomeação do coronel Paulo Roberto Mendes como comandante geral da Brigada Militar do Rio Grande do Sul. O coronel deve ser exonerado nesta quinta-feira do cargo. A matéria é baseada em escuta realizada pela Polícia Federal, no âmbito da Operação Solidária, que flagrou telefonema do chefe de gabinete da prefeitura de Canoas, Chico Fraga (também réu na Operação Rodin, que investigou fraude de mais de 43 milhões de reais no Detran gaúcho). Fica claro, pelo telefonema, que houve ação lobista para a nomeação do coronel Paulo Roberto Mendes. Nas investigações da Operação Solidária apareceram os nomes dos deputados federais José Otávio Germano (PP) e Eliseu Padilha (PMDB). E ainda os deputados estaduais Alceu Moreira (atual presidente da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul) e Marco Alba (ambos do PMDB). O deputado federal Eliseu Padilha confirmou para Zero Hora que foi ele quem levou a indicação do nome do coronel Paulo Roberto Mendes para a escolha da governadora Yeda Crusius (PSDB). É notório que o deputado federal Eliseu Padilha exerce grande influência na prefeitura de Canoas. E mantém relações muito próximas com Chico Fraga, tanto que empregou a mulher deste como funcionária em seu escritório político, localizado na Travessa Leonardo Truda, no centro de Porto Alegre. Também aparece na matéria o nome do jornalista Políbio Braga. É igualmente notório que a prefeitura de Canoas, durante anos, gastou generosas verbas de publicidade. Leia a seguir a matéria de Adriana Irion que está na edição desta quinta-feira de Zero Hora: “Ao grampear os telefones de suspeitos de desvios em verbas na Grande Porto Alegre, a Polícia Federal gravou um dos investigados, o secretário-geral de Governo de Canoas, Francisco Fraga, recebendo do coronel Paulo Roberto Mendes um pedido de apoio para assumir o comando da Brigada Militar. A ascensão de Mendes ocorreu em junho, e o diálogo vem à tona em um momento em que ele está deixando o comando. Na ligação, feita em abril, o oficial solicitava que Fraga intercedesse junto ao Piratini para garantir sua nomeação ao comando. À época, Mendes era subcomandante da corporação, e Chico Fraga, um dos 39 indiciados pela Polícia Federal em outro inquérito, o da Operação Rodin. O diálogo foi documentado com autorização judicial no contexto da Operação Solidária, que apura fraude em contratos de fornecimento de merenda escolar e de obras rodoviárias. Em 27 de maio, Fraga se tornou um dos 40 réus no caso Rodin, que investigou a fraude do Detran. Enquanto isso, Mendes estava prestes a assumir o comando. Teve seu nome confirmado pela governadora Yeda Crusius em 9 de junho. Relatório em que a Polícia Federal analisa os diálogos gravados reproduz o seguinte trecho: “Assim, no intuito de fortalecer seu nome, Mendes solicitou a Chico Fraga que fizesse articulações com algumas pessoas que pudessem influenciar na decisão da chefe do Executivo. Nesse sentido, solicitou o militar que Chico Fraga pleiteasse ao jornalista Políbio Braga a produção de matéria relacionada à invasão da fazenda Southall, aduzindo que o MST somente teria logrado êxito em função da ausência de Mendes, que se encontrava em viagem oficial. Chico Fraga recorreu também ao deputado Eliseu Padilha, o qual teria se comprometido a falar com a governadora”. Um dos diálogos interceptados é entre Fraga e uma pessoa que supostamente poderia influenciar o jornalista Políbio Braga. Fraga sugere a publicação de nota afirmando que a invasão da fazenda só ocorreu porque Mendes não estava atuando naquele dia, 14 de abril. A nota foi publicada. Transcrições e relatório da PF que expõem a relação entre Mendes e Fraga integram o inquérito da Operação Solidária que está na Justiça Federal, em Porto Alegre. Apesar de tramitar em segredo de justiça, o inquérito pode ser consultado por interessados, como advogados e investigados. ZH teve acesso ao material por meio de pessoas que o receberam no começo da semana. Os documentos estão sendo distribuídos a autoridades, especialmente na própria Brigada. Um dos que receberam o material foi o ex-comandante-geral da BM Nilson Bueno, sucedido por Mendes. Bueno confirmou a ZH ter recebido os documentos, mas não quis se manifestar sobre o teor. Ele fez contato com a PF e aguarda audiência na superintendência para buscar esclarecimentos sobre os documentos”. É importante ressaltar que o Estado do Rio Grande do Sul e a governadora Yeda Crusius estão cercados e reféns de um processo de “balcanização” e desmoralização que tomou conta da Brigada Militar, uma corporação com longa história, e que está profundamente deteriorada. Neste momento, o Tribunal Militar, alvo de constante disputa entre coronéis pelas suas vagas de juiz, passa por uma correição do Conselho Nacional de Justiça. A Brigada Militar é acusada de passar a mão por cima de graves deslizes de altos oficiais, como coronéis e tenentes-coronéis. Esses deslizes são efetivamente graves, como envolvimento direto com quadrilhas de invasão de contas bancárias e clonagem de carros de luxo. Um desses coronéis clonava carros e não se vexava de vendê-los para seus próprios colegas. Pergunta que se fazem os gaúchos: quem investiga os investigadores?

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