domingo, 11 de janeiro de 2009

Você é judeu? Então eu sou judeu

A seguir você lê um artigo do jornalista Reinaldo de Azevedo, que serve para ajudar a clarear a cabeça das pessoas sobre o conflito existente no Oriente Médio. Diz ele: “Recebi algumas dezenas de comentários indagando se sou judeu. Não, não sou, como é notório e sabido. As Reinaldinhas, já afirmei aqui, têm é o sangue árabe da Dona Reinalda (Líbano) misturado ao deste escriba, um ser, assim, sem nenhum pedigree. Eu e Pipoca Maria somos os vira-latas da casa. As minhas mulheres trazem estampada no rosto a origem. Eu sou produto do vulgo mesmo, entenderam? Mas tudo bem: aceito passar por judeu ao menos enquanto Israel estiver sob um inédito ataque especulativo. Depois volto a ser coisa nenhuma. Já se viu alguém “acusar” um negro de ser favorável a cotas raciais só porque negro? Não! Se alguém o fizer, corre o risco de ser considerado racista. As cotas têm de ser vistas como uma medida técnica, de pura racionalidade. Os brancos que discordam, no entanto, despertam a suspeita óbvia: racismo. Assim, só um negro teria autoridade para criticar a medida. O mundo está ficando, de fato, bárbaro. A pergunta que me é dirigida parte da suposição de que só judeus possam fazer a defesa de Israel — como se fosse, assim, o peso nas costas de uma minoria pecadora. Se você não é “um deles” — encarados como portadores de alguma estranheza —, então não tem razão nenhuma para defender aquele estado. Curioso. As pessoas se dividiriam em dois grupos: o das que teriam interesse particular na questão (porque acometidas de “judaísmo” congênito) e o das outras: os seres não-judeus. E vejam que coisa: o “natural” dos não-judeus seria se alinhar com a causa palestina, que passa a ser, então, o lugar neutro do debate. Defender Israel é que seria adernar, ir para um extremo, pender para um lado, sair do zero do equilíbrio. Já o alinhamento com os palestinos assume a feição do não-lado. A frase símbolo poderia ser esta: “Sou neutro: os palestinos estão certos”. Os mais exaltados poderiam tentar o gênero “camiseta grandiloqüente”: “Sou neutro! Tirem as patas da Palestina”. Há uma brutalização óbvia do debate sob o pretexto de se contestar a inequívoca tragédia na Faixa da Gaza. A indignação toma o lugar da razão, coisa de que tratarei em outro post, e os argumentos vão se deixando contaminar pela propaganda. Essa, sim, é a verdadeira vitória do terror. Por isso afirmei aqui, na segunda-feira, dia do meu retorno das férias, que Israel já havia perdido a chamada “guerra na mídia”. A foto que publiquei ontem da menina palestina com um pão em uma das mãos e uma boneca suja de tinta vermelha — para simbolizar o sangue — fala por si mesma. No alto deste post, há outra imagem. É de 2005, ano que marca a retirada das tropas israelenses de Gaza. Alguém teve a feliz idéia de fotografar os fotógrafos no momento em que produziam uma peça publicitária. Quero, assim, evidenciar que todos os argumentos palestinos são falaciosos, e todos os israelenses, verdadeiros? Não! Nunca escrevi ou sugeri isso. Tenho chamado a atenção é para outra coisa: o terrorismo óbvio, explícito, escancarado, de uma milícia assassina está sendo tratado apenas como um falso pretexto, uma ladainha, para Israel invadir Gaza e, então, praticar barbaridades. Ora, não se pode fazer esse juízo sem partir do princípio, então, de que essencialmente criminoso é o Estado de Israel. E, com efeito, essa mentira escandalosa me faz mais judeu do que nunca”.

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