quarta-feira, 22 de abril de 2009

Ou o Congresso brasileiro reage ou pratica suicídio coletivo – de Reinaldo Azevedo

Deputados e senadores têm apenas uma alternativa, acho eu, para estancar a sangria — de reputação — que hoje enfraquece o Congresso: assinar um documento pedindo desculpas aos brasileiros pelas farras com as passagens aéreas. Sei que há outras farras. Mas essa, parece, atravessou todos os partidos, todas as ideologias, toda a hierarquia. Deixariam de assinar o documento apenas aqueles que usaram pessoalmente as cotas, sem transferir passagens a ninguém, e para o exercício do mandato. É bem possível que ninguém se enquadre nessa exigência. Não estou sendo irônico, não. Falo sério. O Congresso brasileiro parou. Nada mais que Câmara e Senado digam ou façam é levado a sério pelo eleitor. A cada dia, surgem nomes novos na lista das passagens. A desmoralização parece não ter fim. Estamos sem o Legislativo. É como se ele tivesse acabado. O Executivo governa o país como déspota. Os escândalos vão pipocando, e deputados e senadores nada têm a dizer porque ocupados em se justificar. O expediente iguala oposição e situação. Pois que façam o documento e assumam o erro. Mais ainda: admitam que as cotas eram usadas como salário indireto. Por isso os deputados e senadores não viam mal nenhum em usá-las para pagar viagens de familiares e amigos. Cada um faz o que quer com o seu dinheiro. É verdade. Ocorre que o dinheiro não era deles. Era do Congresso — de fato, dos brasileiros. Mas parece que os valentes não perceberam o tamanho do buraco. Ao criarem “novas” regras para as passagens, apenas oficializaram a mamata, o que é o fim da picada. Eles realmente acham que temos a obrigação de pagar as viagens de seus familiares. E, é claro, nós não temos. A lambança não pára aí: as duas Casas legislativas são dois pantagruélicos cabides de empregos. Neste momento, o Legislativo está acabado. Ou os líderes partidários se dão conta disso, ou, reitero, continuarão a reboque do Executivo, sendo vistos pela população como pesos mortos, que custam caro ao país, locupletam-se e ainda não nos trazem nenhum benefício. Que essa gente se emende. Ou, na prática, chegaremos à venezuelização sem que o Executivo nem precise avançar sobre o Legislativo, como fez o Beiçola de Caracas. Aqui seria tudo mais fácil: os senhores parlamentares prefeririam o suicídio coletivo. Ou o Parlamento brasileiro reage ou morre. E a reação pede duas iniciativas: o pedido de desculpas e a moralização de procedimentos.

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