terça-feira, 26 de maio de 2009

Operação Satiagraha: os incríveis documentos da Itália

Um novo nome surgiu quando se foi verificar com quem o delegado federal Protógenes Queiroz trocou telefonemas durante os preparativos da operação que ele batizou como “Satiagraha”: o empresário Luís Roberto Demarco. O empresário tornou-se conhecido como idealizador das “lojinhas virtuais” do PT, um esquema de arrecadação partidária à prova de auditorias e que alavancou a vitória de Lula em 2002. Mas, seu talento vai além disso. Na sua disputa com o bilionário Daniel Dantas, ele fez funcionar em seu favor as engrenagens do Ministério Público, da Câmara dos Deputados, do PT, de setores do Palácio do Planalto e da imprensa. A descoberta de que os telefones de Demarco e Protógenes são íntimos, junto com os indícios de que o empresário usava também o telefone da empresa do blogueiro Paulo Henrique Amorim para sua comunicação com o delegado, associa-se a outro registro peculiar. Já em 2004, quando o delegado que perseguia Daniel Dantas era outro, na operação apelidada “Chacal”, o empresário agia com desenvoltura. Ele deu conselhos ao delegado federal Elzio Vicente da Silva sobre como conduzir a investigação e recomendou os crimes para enquadrar Daniel, Dantas, como “formação de quadrilha, concorrência desleal, ameaça, tentativa de sequestro, corrupção ativa e passiva, difamação, injúria, calúnia, e outros”. Os documentos que apontam para Demarco como o sujeito oculto de ações do poder público acabaram de chegar da Itália. São contundentes. Mais de 470 mil páginas produzidas pela Procuradoria de Milão. Referem-se à investigação sobre o destino dos pagamentos feitos no Brasil para expandir o mercado da Telecom Italia, sem a contrapartida esperada. Daniel Dantas era o principal adversário dos italianos. Demarco foi contratado para “serviços de inteligência” e tráfico de influência, conforme se lê no longo inquérito a respeito. Demarco e seu advogado, Marcelo Elias, são citados em 39 dos cerca de 200 arquivos do processo. Os nomes dos dois aparecem, em média, por 30 vezes a cada consulta dessas 39 pastas processuais. Os dois brasileiros aparecem contextualizados numa investigação que apura “triangulações”, “desvios de verba e de função” e “pagamentos em dobro”, feitos no âmbito da Telecom Itália. Demarco utiliza-se de uma prática recorrente para justificar investidas. Consegue que algum jornalista amigo publique uma informação que ele próprio produziu. De posse da notícia, ele parte para o ataque. Outro hábito era o de mandar em cópia oculta para seus contratantes, na Itália, os emails que trocava com jornalistas brasileiros. Constrangedores.

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