segunda-feira, 22 de junho de 2009

Major Curió abre arquivo e revela que Exército executou 41 comunistas no Araguaia

Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o major Curió, abriu para o jornal O Estado de S. Paulo o seu arquivo sobre a “Guerrilha do Araguaia” (1972-1975). Os documentos, guardados em uma mala de couro vermelho há 34 anos, detalham e confirmam a execução de adversários da ditadura nas bases das Forças Armadas na Amazônia. Dos 67 militantes armados do PCdoB, 41 foram presos, amarrados e executados. Até a abertura do arquivo de Curió, eram conhecidos 25 casos de execução. Agora há 16 novos casos, reunidos a partir do confronto do arquivo do major com os livros e reportagens publicados. A morte de prisioneiros representou 61% do total de baixas na coluna guerrilheira do PCdoB. Uma série de documentos, muitos manuscritos do próprio punho de Curió, feitos durante e depois da guerrilha, contraria a versão militar de que os mortos estavam de armas na mão na hora em que tombaram. Muitos se entregaram nas casas de moradores da região ou foram rendidos em situações em que não ocorreram disparos. Os papéis esclarecem passo a passo a terceira e decisiva campanha militar contra os comunistas do PCdoB, a Operação Marajoara, vencida pelas Forças Armadas, de outubro de 1973 a janeiro de 1975. O arquivo deixa claro que as bases de Bacaba, Marabá e Xambioá, no sul do Pará e norte do Estado do Tocantins, foram o centro da repressão militar. Major Curió na verdade não teve nenhum envolvimento direto com as ações militares, pelo que é conhecido até hoje. Conforme os arquivos dele, o guerrilheiro comunista paulista Antônio Guilherme Ribas, o Zé Ferreira foi morto em dezembro de 1973: “Sua cabeça foi levada para Xambioá”. O piauiense Antonio de Pádua Costa morreu diante de um pelotão de fuzilamento em 5 de março de 1974, às margens da antiga PA-70. O gaúcho Silon da Cunha Brum, o Cumprido, “capturado” em janeiro de 1974, morreu em seguida. Daniel Ribeiro Calado, o Doca, aparece a seguir. Diz o arquivo: “Em jul/74 furtou uma canoa próximo ao Caianos e atravessou o Rio Araguaia, sendo capturado no Estado de Goiás”. Só foram poupados adolescentes, como Jonas, codinome de Josias, de 17 anos, que ficou detido na base da Bacaba, no quilômetro 68 da Transamazônica. Documento datilografado do Comando Militar da Amazônia, de 3 de outubro de 1975, assinado pelo capitão Sérgio Renk, destaca que Jonas ficou três meses na mata com a guerrilha do PCdoB, “sendo posteriormente preso pelo mateiro Constâncio e ‘poupado’ pela Força Federal devido à pouca idade”. O arquivo de Curió dá indicações sobre a política de extermínio comandada durante os governos de Emílio Garrastazu Medici e Ernesto Geisel por um triunvirato de peso. Na ponta das ordens estiveram os generais Orlando Geisel (ministro do Exército de Medici), Milton Tavares (chefe do Centro de Inteligência do Exército) e Antonio Bandeira (chefe das operações no Araguaia). Curió lembra que a ordem dos escalões superiores era tirar de combate todos os guerrilheiros: “A ordem de cima era que só sairíamos quando pegássemos o último”. Em 1966, portanto dois anos antes da edição do famigerado AI5, que efetivamente implantou a ditadura no País, membros do PCdoB começaram a se instalar em três áreas do Bico do Papagaio, região que abrange o sul do Pará e o norte do atual Estado do Tocantins. A Guerrilha do Araguaia era composta por uma comissão militar e pelos destacamentos A, B e C. Da força guerrilheira, 98 pessoas pegaram em armas ou atuaram em trabalhos de logística. Deste total, 78 foram recrutadas pelo partido nas grandes metrópoles brasileiras e 20 na própria região do conflito. Entre 1972 e 1974, as Forças Armadas promoveram três campanhas na tentativa de eliminar a guerrilha. A repressão contou com cerca de 5 mil agentes, incluindo homens das polícias Federal, Rodoviária Federal, Militar e Civil. O conflito deixou um saldo de 84 mortos, sendo 69 comunistas do PCdoB, ou apoios da guerrilha comunista, 11 militares e 4 camponeses sem vínculos com o PCdoB ou o Exército, e 23 guerrilheiros comunistas sobreviveram.

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