quarta-feira, 10 de junho de 2009

Romance de escritor argelino retrata nazismo no mundo árabe

Na maioria dos países árabes, não houve um debate crítico aberto sobre o nazismo e o Holocausto. Em seu livro "O vilarejo do alemão", o autor argelino Boualem Sansal alia o fato ao estabelecimento do islamismo radical. Ocasionalmente, alemães em viagem pelo Cairo ou por Damasco são cumprimentados pelo fato de terem tido Adolf Hitler, enquanto é negado o assassinato de milhões de judeus e não judeus. Na maioria dos casos, atrás dessas declarações não se encontra má intenção, mas insegurança e desconhecimento. Até o momento, somente poucos intelectuais árabes ousaram tratar abertamente desse tema que se tornou um tabu. Entre esses intelectuais está o romancista argelino Boualem Sansal, que traz uma mensagem bem clara em seu último romance “Le Village de l'Allemand” (O vilarejo do alemão, 2008). Para Sansal, a falta de discussão, nos países árabes, sobre o Holocausto e sobre o totalitarismo do século 20, ajudou àqueles que querem instaurar um regime totalitário: os islamitas radicais. Até agora, seu livro não pode ser vendido na Argélia. O personagem principal do romance é um nazista alemão chamado Hans Schiller, que teve participação nos assassinatos em massa de Auschwitz e que, através de caminhos tortuosos, acabou entrando no Exército de Libertação Nacional da Argélia após 1945. Como criminoso de guerra internacionalmente procurado, Schiller se estabeleceu e constituiu família na Argélia. Seus dois filhos, que nada sabiam sobre o passado do pai, foram enviados cedo para a França. Somente quando o velho nazista e sua esposa argelina morrem em um atentado terrorista na Argélia, nos anos de 1990, a verdade vem lentamente à tona. O romance trata de mitos primordiais e de tabus enraizados na sociedade argelina. A imagem ideal de um Exército de Libertação Nacional (ELN) esquerdista, antifascista e íntegro não deve, na medida do possível, ser manchada. Está claro que também nas fileiras do ELN houve mortes e torturas. Em casos isolados, foram recrutados antigos nazistas para missões especiais ou como instrutores, caso não houvesse outros à disposição. Um debate aberto sobre o lado obscuro do passado não foi, até agora, desejado, criticou Boualem Sansal. Desta história faz também o fato de, na Argélia, nazistas terem lutado na Legião Estrangeira ao lado da França, contra os argelinos.

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