quinta-feira, 9 de julho de 2009

Papa Bento 16 remove cardeal responsabilizado por crise sobre Holocausto

O papa Bento 16 removeu nesta quarta-feira uma autoridade do Vaticano amplamente responsabilizada por suspender a excomunhão do bispo Richard Williamson, que havia negado a amplitude do Holocausto. O cardeal Darío Castrillón Hoyos era presidente do departamento Ecclesia Dei (Igreja de Deus), criado 20 anos atrás pelo Vaticano para buscar uma reaproximação com o grupo dissidente tradicionalista Sociedade de São Pio 10º (SSPX), que se opõe a medidas de modernização introduzidas na igreja pelo Concílio Vaticano 2º (1962-65). Em janeiro deste ano, a reabilitação do bispo Williamson, cuja excomunhão foi suspensa junto às de outros três bispos tradicionalistas expulsos da igreja nos anos 80 por terem sido ordenados sem a permissão do papa João Paulo 2º, deu origem a uma polêmica que ainda não terminou. Depois de anunciado o perdão papal, foi ao ar uma entrevista em que Williamson negou a extensão do Holocausto. Williamson disse acreditar que não existiram câmaras de gás e que não mais do que 300 mil judeus pereceram em campos de concentração nazistas, em vez do total de 6 milhões documentado pelos historiadores. Em meio a uma forte reação internacional, o papa exigiu que Williamson se retratasse, dizendo que negar o Holocausto é "totalmente inaceitável". Em março, após ser expulso da Argentina, Williamson pediu perdão pelas declarações sobre o Holocausto, mas não rejeitou o que dissera. Nem o Vaticano nem grupos judaicos aceitaram o pedido. O papa colocou agora o Ecclesia Dei sob o controle do departamento de doutrina do Vaticano, a Congregação pela Doutrina da Fé, e nomeou o cardeal norte-americano Joseph Levada para presidi-lo. Os comentários de Williamson e a decisão do papa de remover sua excomunhão causaram uma profunda fissura nas relações católico-judaicas. A medida foi condenada por sobreviventes do Holocausto, católicos, o chefe do Rabinato de Israel, líderes judaicos em todo o mundo e a chanceler (primeira-ministra) da Alemanha, Angela Merkel. O pontificado de Bento 16 tem sido marcado por pontos de atrito entre o Vaticano e grupos judaicos. Em 2007, o papa enfureceu muitos judeus ao suspender restrições a missas em latim com o rito tridentino, que contém uma oração pela conversão dos judeus. A Associação dos Rabinos Italianos decidiu, em resposta à decisão sobre a missa, boicotar as celebrações do dia anual de diálogo inter-religioso entre judeus e cristãos, no dia 17 de janeiro, instituído pelo papa João Paulo 2º como uma forma de combater o antissemitismo. O processo para a transformação do papa Pio 12 (1939-1958) em santo também é criticado por grupos judaicos, que acusam o líder da igreja durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945) de não ter se manifestado publicamente contra a perseguição aos judeus promovida pelo governo nazista. Bento 16 fez parte da Juventude Nazista e foi soldado do exército nazista alemão.

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