quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Receita Videversus – aprenda com a chef de cuisine Simone Nejar a preparar batatas temperadas

Outro dia eu estava correndo, para variar, tentando fazer com que todos os meus compromissos coubessem dentro da tarde. O relógio me desafiava o tempo todo, rindo da minha pressa, como se pudesse ser detido pelas minhas preocupações com prazos, papéis, petições e clientes. Entre uma diligência e outra, precisei descer do carro para protocolar um requerimento. Estava com um amigo, tão apressado quanto eu, mas, certamente, bem mais atento. De fato, eu só enxergava à minha frente o balcão em que me atenderiam, enquanto ele se deixou ficar à minha espera, do outro lado da rua. Apenas depois de ser atendida foi que parei de controlar o relógio e observei, já na rua, uma cena que bem poderia se passar num velho café em Paris, não estivéssemos nós na rua Lima e Silva, no boêmio bairro Cidade Baixa, reduto de estudantes em Porto Alegre. Ali, sentada em um café, uma linda mocinha de seus vinte anos lia, embevecida, alheia à ignorância e imbecilidade que grassa no Brasil; lia, apesar da onda de escândalos e devassidão fomentada pelos seus governantes; lia, apesar da existência de certas monumentalidades de mau gosto que costumam acossar os jovens de sua idade. Meu amigo, enternecido com aquela visão, perguntou à moça o que estava lendo com tanta atenção, ao que ela, sorridente, respondeu-lhe: Dostoievski, “Crime e Castigo”. A menina, cujo sorriso delicado poderia ser o de Nastenka, personagem de “Noites Brancas”, do mesmo Dostoievski, ali estava, sorrindo, sabendo que portava um pequeno tesouro em suas mãos. E aí, foi a vez do meu amigo sorrir. E eu reconheci, em seu rosto, não mais o Raskólnikov atormentado de até então, mas o solitário sonhador de “Noites Brancas”: “Meu Deus! Um minuto inteiro de felicidade! Afinal, não basta isso para encher a vida inteira de um homem?...” E agora, subitamente acordado pela minha presença, ele sussurrou um “nem tudo está perdido...” Hoje eu vou preparar umas batatinhas deliciosamente crocantes e temperadas, pois tenho o hábito de sempre associá-las à literatura, por causa do Quincas Borba. Para quem ainda não conhece um condimento chamado sal de aipo, fica a dica: trata-se de um sal não muito fino processado com sementes de aipo (salsão), o que lhe confere um gosto delicioso. Vamos fatiar meio quilo de batatas em rodelas de um centímetro de espessura. Preparamos um molho misturando uma xícara de azeite, uma colher de sopa de sal de aipo, uma colherinha de açúcar e uma xícara de ervas frescas finamente picadas: manjericão, sálvia, alecrim, salsinha, cebolinha, ou que você tiver em casa. Ligamos o forno. Vamos colocar numa tigela as fatias de batata e envolvê-las com o azeite e os temperos. Levamos ao forno numa assadeira untada até que as batatas fiquem douradinhas. Simples, porém delicioso. Uma ótima quarta-feira!

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