domingo, 11 de outubro de 2009

Família Sarney interfere à vontade na agenda do ministro Edison Lobão

O ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, encarregado pelo presidente Lula de administrar o pré-sal, é um aliado de José Sarney tão obediente que permite ao presidente do Senado interferir em sua agenda. Conversas interceptadas pela Polícia Federal mostram que o filho mais velho de Sarney, e um apadrinhado antigo do clã maranhense, têm livre acesso ao ministro Edison Lobão e a seu gabinete. Nesses diálogos, eles ditam compromissos para Lobão ou para seus assessores e secretárias, marcam e cancelam reuniões do ministro sem avisá-lo previamente, orientam Lobão sobre o que dizer a empresários que irá receber, falam de nomeações no governo e discutem contratos que acabariam assinados pelo ministério. As conversas, no entender da Polícia Federal, configuram “tráfico de influência”, crime de solicitar ou obter vantagem para influir em órgão público, que prevê de dois a cinco anos de prisão. O relatório do inquérito diz que Fernando, o filho mais velho de Sarney, “coordenou a prática ilícita”. Silas Rondeau, o aliado de Sarney que antecedeu Lobão no Ministério de Minas e Energia, e de lá saiu em 2007, sob denúncias de corrupção, seria seu subordinado. Obtidas pela Polícia Federal com autorização da Justiça, as escutas fazem parte da Operação Boi Barrica, que investigou negócios da família Sarney e culminou com o indiciamento de Fernando sob a acusação de crime de quadrilha, gestão de instituição financeira irregular, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Nas conversas, Lobão, Rondeau e Fernando se tratam quase sempre por apelidos. O ministro é chamado de “Magro Velho”. Rondeau é o “Baixinho”. Fernando é chamado de “Bomba”, “Bombinha” ou “Madre”, e José Sarney é chamado de “Madre Superiora”. O conteúdo de oito grampos mostra que o ministro “terceirizou” aos “amigos” a sua agenda de compromissos. Em um diálogo de 16 de setembro de 2008, Fernando Sarney conversou com o então assessor de imprensa de Lobão, Antônio Carlos Lima, o Pipoca, e contou que marcou um jantar de negócios para o ministro para a semana seguinte: “Depois eu me acerto com ele“. Nesse mesmo dia, Fernando Sarney falou com Lobão sobre dois compromissos que este teria no ministério e deu instruções. O primeiro foi uma audiência com representantes de emissoras de rádio e de TV, para discutir como revogar o decreto presidencial que programava o início do horário de verão. Lobão resistiu. “Escuta e vê se é possível. Entendeu?”, disse Fernando. “Tá bom”, respondeu o ministro. O segundo foi uma reunião com Lauro Fiúza, da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica). “Eu tinha acenado com ele que de repente você ia fazer um contato mais próximo. Vão fazer uma exposição para você sobre os projetos”, comunicou Fernando Sarney.

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