segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Reeditado livro póstumo de Gilberto Freyre sobre moda

A moda continua passando ao largo das preocupações dos principais intelectuais brasileiros. Uma exceção à regra é Gilberto Freyre. Nos seus principais trabalhos, como "Casa Grande & Senzala", "Sobrados e Mocambos" e "Ordem e Progresso", o sociólogo dedicou relevante espaço à análise dos hábitos relacionados às roupas e às mudanças na vestimenta no Brasil, dos tempos da Colônia aos da República. Não satisfeito, Gilberto Freyre (1900-1987) empreendeu, já no final da vida, a redação de um livro inteiro sobre o tema, "Modos de Homem & Modas de Mulher", publicado postumamente em 1987. A obra, que se encontrava esgotada, ganhou agora uma segunda edição, revista, pela editora Global, com introdução da historiadora Mary del Priore. É uma leitura fundamental para quem se interessa por moda e também pelo Brasil. A história social e cultural do País está sempre no foco dos 95 pequenos ensaios e comentários que compõem o livro, todo ele construído em uma forma ousada: o final de um texto sempre incita o autor a desenvolver o texto seguinte, uma idéia puxando a outra idéia. Em vôos não cronológicos, Gilberto Freyre percorre os tempos coloniais para falar da herança negra nas vestimentas e dos laços do Brasil com o Oriente (sobretudo a Índia), de onde viria o gosto das brasileiras pelas roupas de cores vivas. Atravessa o Império para demonstrar como a europeização do País espalhou tons escuros e silhuetas pesadas nos salões das elites, um estilo bastante "antiecológico", ele diz, por contrariar o clima tropical. Avança ao Segundo Reinado e ao fim da escravidão, para tratar das roupas de Pedro 2º e das bonecas loiras trazidas da Europa, que impregnaram a cabeça das meninas ricas brasileiras de "racismo" e sonhos de loirice. Daí a mania (que se mantém até hoje) de pintar os cabelos e esconder a "morenidade". O sociólogo e antropólogo também aborda o modernismo nas artes e na arquitetura, no qual ele vê uma inspiração para a própria moda brasileira sair da fase imitativa dos modelos europeus e desenvolver trajeto inédito. Para ele, a moda nacional já possui um rico repertório de referências, em boa parte, de origem popular, africana e indígena, que favorece a criação de estilos singulares. Uma infinidade de outros assuntos passam pela pena de Gilberto Freyre. Ele escreve sobre a liberação sexual e as conquistas profissionais das mulheres, a luta contra o envelhecimento, o fenômeno Sonia Braga, as roupas de luto, os tipos de penteados e calçados, os trajes das mulheres proletárias e o gosto brasileiro pelas ancas largas e as "protuberâncias".

Nenhum comentário: