sexta-feira, 19 de março de 2010

Ex-capitão da Marinha admite crimes e mortes durante ditadura argentina

O argentino Jorge Acosta, ex-capitão da Marinha e chefe de inteligência de uma unidade da Escola de Mecânica da Marinha (Esma), admitiu pela primeira vez ser "absolutamente responsável" pelas ordens que resultaram em ações repressivas cometidas durante a ditadura militar argentina (1976-1983). Ao depor na quinta-feira perante o Tribunal Oral Federal Cinco, Acosta, conhecido como El Tigre, confirmou a prisão de pessoas na Esma e afirmou que "violações aos direitos humanos são impossíveis de serem evitadas em uma guerra". "Quero homenagear todas as vítimas", continuou o militar na reserva, ao assumir a responsabilidade por algumas das mortes que, segundo ele, foram causadas sob o seu comando. Acosta é acusado ainda de estuprar algumas das prisioneiras mantidas na Esma. O ex-capitão atuou como chefe de inteligência de uma unidade da Esma entre 1976 e 1978. Atualmente com 68 anos, ele é julgado ao lado de outros 18 ex-repressores, no chamado julgamento da Esma, por crimes contra a humanidade. Estimativas do governo indicam que cerca de 5.000 opositores do regime foram mortos e torturados no local. Apenas 170 sobreviveram. Lá também funcionava uma maternidade clandestina. Os bebês nascidos ali eram tirados de suas mães, que, muitas vezes, eram mortas. Na quarta-feira havia testemunhado o ex-capitão assino Alfredo Astiz, conhecido como o Anjo Louro da Morte, acusado de ter cometido sequestros, torturas e assassinato de civis. Entre os crimes de Astiz está ainda o sequestro de duas freiras francesas, cuja morte fez com que ele fosse condenado à prisão perpétua pela Justiça francesa. Ele afirmou aos juízes que seu papel era "lutar contra o terrorismo que, apoiado por Cuba e União Soviética, buscava tomar o poder por meio da violência". Astiz também lançou acusações contra o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), que deu "um verdadeiro golpe de Estado" com a renovação da desprestigiada Suprema Corte em 2003. Na época, o número de julgamentos por crimes políticos na ditadura aumentou significativamente. Durante anos, os militares acusados de tortura ficaram a salvo da Justiça, graças às chamadas leis do perdão, que impediam que eles fossem a julgamento. Estas leis, no entanto, foram revogadas há quatro anos, o que possibilitou a abertura de centenas de processos contra ex-repressores. Em Roma, na quinta-feira, depôs a presidente da organização Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, sobre "a maquinaria de horror" implementada na Esma, em um tribunal italiano. Os magistrados italianos julgam o ex-almirante Emilio Eduardo Massera pelo homicídio voluntário premeditado e agravado de três cidadãos do país: Angela Maria Aieta, Giovanni e Susanna Pegoraro. Pelo mesmo crime, já foram julgados e condenados à prisão perpétua Acosta, Astiz, e Antonio Vañek e Jorge Raul Vildoza, também ex-militares. O advogado Marcello Gentili, que representa os familiares das vítimas, disse que Estela de Carlotto, cuja filha Laura Estella foi sequestrada e assassinada após o nascimento de um menino que ainda não foi encontrado, expôs "o drama pessoal e das crianças roubadas". "Estela de Carlotto explicou durante mais de uma hora como era a organização da maternidade na Esma, a apropriação das crianças nascidas e o genocídio das mães, tudo com o consentimento de Massera, que era responsável por essa academia", continuou Gentili. Além da presidente da associação de defesa dos direitos humanos, uma de suas filhas, Claudia, e a mulher de um desaparecido, Graciela Lois, também prestaram depoimentos. O julgamento contra Massera na Itália foi iniciado no último ano. Desde então, foram realizadas várias audiências. Em uma delas, no último dia 16 de fevereiro, Scilingo foi chamado a testemunhar por meio de uma videoconferência da Espanha, onde está detido. Ao depor, ele negou sua participação nos chamados "vôos da morte", nos quais os presos políticos eram lançados no mar a partir de aviões em movimento. Alguns dos corpos jogados no Rio da Prata foram recuperados e identificados por antropólogos especializados. Scilingo já foi julgado e condenado na Espanha.

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