sábado, 20 de março de 2010

Justiça argentina prende pai de juíza que contrariou pedido do governo

Uma juíza argentina acusa o governo da presidente da Cristina Kirchner de ordenar a prisão de seu pai para pressioná-la por causa de uma recente decisão determinada por ela de proibir o uso de reservas do Banco Central para pagamento de dívida pública. O pai da juíza María José Sarmiento, o militar da reserva Luis Alberto Sarmiento, de 85 anos, é acusado de crimes contra a humanidade durante a última ditadura no país (1976-1983). A prisão do militar foi determinada nesta sexta-feira por um juiz federal da província argentina de Misiones. "Claro que eles estão tentando me pressionar", afirmou a juíza Sarmiento, que já havia denunciado, em janeiro, ter sofrido intimidação policial. Ela foi a primeira a impedir, em janeiro, o uso de reservas do Banco Central para pagamento da dívida pública, conforme pretendia a presidente Cristina Kirchner. Em entrevista à rádio Diez, Maria José Sarmiento disse que o pedido de prisão é uma "pressão" do governo contra ela. A juíza afirmou ainda temer o que possa ocorrer a partir de agora. "É nosso trabalho controlar os atos do governo. Faço este trabalho há dezenove anos. Mas agora percebo exagero nas ações da administração central. Sinto medo", afirmou ela. Segundo a juíza, seu pai está doente, mas não mudará sua postura: "Entendo como pressão, mas não vou ceder". A presidente peronista populista Cristina Kirchner pretendia usar as reservas para o chamado Fundo Bicentenário, que tinha como objetivo o pagamento de parte da dívida pública do país. A recusa do então presidente do Banco Central argentino, Martin Redrado, a liberar os fundos para esse fim, causaram uma grande polêmica e sua demissão ilegal. A demissão e o uso das reservas foram suspensas por ordem da juíza Maria José Sarmiento em janeiro. Desde dezembro, o assunto enfrenta um impasse e está no centro da disputa entre governo e oposição, envolvendo Executivo, Legislativo e Judiciário. Segundo o secretário de Direitos Humanos argentino, o montoneiro Eduardo Luis Duhalde, a juíza deveria procurar um psicólogo se ela tem medo. Duhalde, ex-membro de organização terrorista, assim como o ex-presidente Nestor Kirchner, o pai da juíza Maria José Sarmiento é acusado desde 2006, a partir de denúncia da ex-presa política Graciela Franzen, que teria sido torturada na prisão e cujo irmão morreu na cadeia durante a ditadura. Em março de 1976, quando ocorreu o golpe militar, o pai de Maria José Sarmiento era chefe da inteligência do Exército de Posadas, em Misiones, e foi promovido a ministro do governo local e responsável pela área de segurança. Segundo a investigação da Justiça Federal de Misiones, entre abril e novembro daquele ano, teriam sido registrados 90 sequestros, torturas e assassinatos naquele território, que faz fronteira com o Brasil. A deputada da oposição Elisa Carrió disse que se trata de "mais uma ação do governo para destruir juízes independentes".

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