quinta-feira, 25 de março de 2010

Lula ignora abusos no Irã, afirma ativista que teve noiva assassinada

Até dez meses atrás, o escritor e documentarista iraniano Caspian Makan jamais pensara em se meter em política. Mas a morte de sua noiva em junho do ano passado, registrada em imagens dramáticas que se espalharam rapidamente pela internet, tornou-se um símbolo da oposição ao regime dos aiatolás e virou sua vida de cabeça para baixo. Makan diz que virou ativista político para expor os abusos cometidos pela "ditadura iraniana" e alertar que é ingenuidade achar que é possível moderar as posições de Teerã por meio do diálogo, como tem defendido o governo brasileiro. As cenas de Neda Agha-Soltan agonizando em uma rua de Teerã, o sangue escorrendo pela boca e nariz, deram rosto e nome à brutalidade que milhares de oposicionistas anônimos afirmam ter sofrido nas mãos do regime desde a contestada reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Segundo testemunhas, Neda, de 27 anos, foi atingida no peito por franco-atiradores da milícia fascista islâmica pró-governo Basij. Entrevistado por redes de TV internacionais sobre a morte da noiva, Makan foi preso seis dias depois, em casa. Durante 65 dias ele foi interrogado na prisão de Evin, conhecida por confinar presos políticos, até ganhar liberdade provisória. Temendo ser novamente preso, fugiu do país, e no começo do ano recebeu asilo político no Canadá. Há poucos dias, Makan desembarcou no aeroporto de Tel Aviv e teve seu passaporte iraniano carimbado com o símbolo de Israel, considerado o inimigo número um pelo presidente Ahmadinejad. Encontrou-se com o presidente Shimon Peres, deu entrevistas e palestras e visitou o museu do Holocausto, que documenta o massacre de 6 milhões de judeus pela Alemanha nazista, cuja veracidade Ahmadinejad questiona. Tamanha exposição, justamente no país que é o principal antagonista do Irã na região, acabou transformando Makan em alvo de críticas da própria oposição iraniana. Em sites oposicionistas na internet, foi acusado de servir à propaganda de Teerã ao aceitar o convite de Israel e até de já não ser o namorado de Neda quando ela foi morta, como afirma. Em Israel, Makan manteve um ar fúnebre. Por mais de uma hora, na entrevista coletiva que ele concedeu em um hotel de Tel Aviv para poucos jornalistas, Makan manteve-se cabisbaixo, com o semblante fechado realçado pelas olheiras profundas e a voz baixa, quase um sussurro. O único momento em que esboçou um sorriso amargo foi ao ser questionado sobre a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Irã, marcada para maio, e o apoio do Brasil a um diálogo com Teerã para resolver o impasse em torno de seu programa nuclear. "Isso mostra que os líderes do Brasil não sabem o que está se passando no Irã, com abusos diários dos direitos humanos", diz Makan. "Como é possível ignorar 30 anos de crimes contra o povo iraniano? Como é possível negociar e ter relações com um regime ditatorial como esse?", questiona.

Nenhum comentário: