quinta-feira, 11 de março de 2010

O cinismo sem limites de Celso Amorim

Do jornalista Reinaldo Azevedo: "O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, afirmou nesta quarta-feira que “muita gente pede o apoio” do governo brasileiro, mas que “não é possível ajudar todo mundo”, em referência ao apelo de dissidentes cubanos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que interceda junto ao governo de Raúl Castro pela libertação de presos políticos. Amorim disse também que o governo brasileiro “está comprometido com a defesa da democracia e com os direitos humanos”, mas que a administração também “já teve experiências em que as condenações públicas nem sempre tiveram resultados práticos”. Ontem, Lula pediu, em entrevista à agência Associated Press, respeito às decisões da Justiça cubana e condenou o uso da greve de fome por dissidentes como instrumento para serem libertados da prisão. “Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos de deter as pessoas em função da legislação de Cuba. A greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto de direitos humanos para liberar as pessoas. Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade.” O chanceler recordou uma ocasião em que o próprio presidente Lula fez greve de fome, durante o período da ditadura militar (1964-1985), e considerou tais declarações seriam uma espécie de “autocrítica” sobre o efeito obtido por tal tipo de protesto. Amorim afirmou ainda que o Brasil está “comprometido em ajudar Cuba através de comércio e infra-estrutura” e disse que tais “progressos trazem outras mudanças”, e que “o próprio povo cubano sabe que elas ocorrerão”. “Se alguém está interessado em promover uma evolução política em Cuba, há uma receita muito rápida: acabar com o embargo dos EUA”. De acordo com o chanceler, se as sanções econômicas que os EUA mantêm contra Cuba desde 1962 fossem suspensas, “isso em si traria grande mudanças políticas para a ilha”. Comento - A fala de Celso Amorim é escandalosamente cínica. Ao afirmar que muita gente pede ajuda ao Brasil, mas que nem todos pleitos podem ser atendidos, banaliza a tirania cubana, torna-a algo irrelevante, parte da paisagem política. De resto, nem se questiona o motivo de o Brasil não condenar com clareza a ditadura cubana — porque aí seria esperar moralidade excessiva de quem não consegue demonstrar o mínimo necessário —; o que provoca asco é o alinhamento incondicional com aquele governo, a ponto de comparar dissidentes políticos com bandidos, como fez Lula. Notem que, no fim das contas, conforme escrevi no post em que digo que, moralmente, o Brasil já é um tirania, a política externa brasileira tem uma única pauta: o antiamericanismo. No fim das contas, Amorim está repetindo Raúl Castro ao comentar a morte de Orlando Zapata: “A culpa é dos Estados Unidos”. O embargo a Cuba não tem mais importância econômica, e Amorim sabe disso. Os EUA não aplicam mais sanções a quem faz comércio com a ilha. O que inviabiliza o país é a loucura socialista, é a ditadura. O governo Obama sinalizou com um relaxamento das restrições a Cuba e esperou uma resposta. Veio o sinal: mais repressão. Observem que a política brasileira em relação a Cuba consiste em exigir que o mundo democrático dê sinais de boa vontade com a ditadura, mas nada se cobra da ditadura propriamente. E só pra encerrar: todo mundo sabe que a greve de fome de Lula na cadeia foi de mentirinha; mais uma historinha para compor a mitologia do “filho do Brasil”.

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