domingo, 7 de março de 2010

Promotor paulista pede quebra de sigilo de tesoureiro do PT envolvido no caso Bancoop

O promotor José Carlos Blat, do Ministério Público de São Paulo, pediu na sexta-feira a quebra de sigilo bancário e fiscal do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, por envolvimento no esquema de desvio de verba da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo). Blat também pediu o bloqueio das contas da cooperativa. Ex-diretor financeiro e ex-presidente da cooperativa, Vaccari Neto (na foto) será o responsável pelas finanças da campanha da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à Presidência da República. Segundo reportagem da revista "Veja" desta semana, o promotor analisou mais de 8.000 páginas de documentos do processo que envolve o desvio de recursos e concluiu que a direção da Bancoop movimentou R$ 31 milhões em cheques para a própria cooperativa. Esse tipo de movimentação é uma forma de não revelar o destino do dinheiro. A reportagem informa ainda que outros cheques, que totalizam R$ 10 milhões, foram para quatro dirigentes da cooperativa: o ex-presidente Luiz Eduardo Malheiro e os ex-diretores Alessandro Robson Bernardino, Marcelo Rinaldo e Tomas Edson Botelho Fraga (os três primeiros mortos em um acidente de carro em 2004 em Petrolina, Pernambuco). Eles eram donos da Germany Empreiteira, que prestava serviços à própria Bancoop. Em junho de 2008, o Ministério Público de São Paulo abriu inquérito para investigar a morte de Malheiro, vítima de um acidente de carro em 12 de novembro de 2004 em Petrolina (PE). O acidente ocorreu quando Luís Eduardo voltava de um encontro com políticos do PT. A Promotoria já investiga o esquema de desvio de recursos da Bancoop desde junho de 2007. O esquema teria beneficiado campanhas eleitorais do PT, inclusive de Lula, em 2002, e diretores da cooperativa. A fraude teria prejudicado cerca de 3.000 mil mutuários da entidade e causado um rombo financeiro de aproximadamente R$ 100 milhões. Segundo a denúncia, dirigentes da cooperativa teriam criado empresas fantasmas que prestavam serviços superfaturados e faziam doações não contabilizadas ao PT. Diz a matéria da revista "Veja": "O Ministério Público quebra sigilo da Bancoop e descobre que dirigentes da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo lesaram milhares de associados, para montar um esquema de desvio de dinheiro que abasteceu a campanha de Lula em 2002 e encheu os bolsos de dirigentes do PT. Eles sacaram ao menos 31 milhões de reais na boca do caixa. Depois de quase três anos de investigação, o Ministério Público de São Paulo finalmente conseguiu pôr as mãos na caixa-preta que promete desvendar um dos mais espantosos esquemas de desvio de dinheiro perpetrados pelo núcleo duro do Partido dos Trabalhadores: o esquema Bancoop. Desde 2005, a sigla para Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo virou um pesadelo para milhares de associados. Criada com a promessa de entregar imóveis 40% mais baratos que os de mercado, ela deixou, no lugar dos apartamentos, um rastro de escombros. Pelo menos 400 famílias movem processos contra a cooperativa, alegando que, mesmo tendo quitado o valor integral dos imóveis, não só deixaram de recebê-los como passaram a ver as prestações se multiplicar a ponto de levá-las à ruína. Agora, começa-se a entender por quê. Na semana passada, chegaram às mãos do promotor José Carlos Blat mais de 8.000 páginas de registros de transações bancárias realizadas pela Bancoop entre 2001 e 2008. O que elas revelam é que, nas mãos de dirigentes petistas, a cooperativa se transformou num manancial de dinheiro destinado a encher os bolsos de seus diretores e a abastecer campanhas eleitorais do partido. “A Bancoop é hoje uma organização criminosa cuja função principal é captar recursos para o caixa dois do PT e que ajudou a financiar inclusive a campanha de Lula à Presidência em 2002.” Na sexta-feira, o promotor pediu à Justiça o bloqueio das contas da Bancoop e a quebra de sigilo bancário daquele que ele considera ser o principal responsável pelo esquema de desvio de dinheiro da cooperativa, seu ex-diretor financeiro e ex-presidente João Vaccari Neto. Vaccari acaba de ser nomeado o novo tesoureiro do PT e, como tal, deve cuidar das finanças da campanha eleitoral de Dilma Rousseff à Presidência. Outro frequente agraciado com cheques da Bancoop tornou-se nacionalmente conhecido na esteira de um dos últimos escândalos que envolveram o partido. Freud “Aloprado” Godoy - ex-segurança das campanhas do presidente Lula, homem “da cozinha” do PT e um dos pivôs do caso da compra do falso dossiê contra tucanos na campanha de 2006 - recebeu, por meio da empresa que dirigia até o ano passado, onze cheques totalizando 1,5 milhão de reais, datados entre 2005 e 2006. Nesse período, a Caso Sistemas de Segurança, nome da sua empresa, funcionava no número 89 da Rua Alberto Frediani, em Santana do Parnaíba, segundo registro da Junta Comercial. Vizinhos dizem que, além da placa com o nome da firma, nada indicava que houvesse qualquer atividade por lá. O único funcionário visível da Caso era um rapaz que vinha semanalmente recolher as correspondências num carro popular azul. Hoje, a Caso se transferiu para uma casa no município de Santo André, na região do ABC. João Vaccari Neto e Freud Godoy, envolvidos agora no esquema Bancoop, já atuaram juntos em passado recente. Pelo menos é o que sugere o registro dos telefonemas trocados pela dupla às vésperas do estouro do escândalo dos “aloprados” - como ficaram conhecidos os petistas apontados pela Polícia Federal como integrantes da quadrilha que tentou comprar um dossiê supostamente comprometedor para tucanos durante a campanha presidencial de 2006. No caso de Vaccari, então presidente da Bancoop, os vestígios de participação no caso guardam cheiro de tinta fresca. Foi para ele que Hamilton Lacerda - na ocasião coordenador de comunicação da campanha do senador Aloizio Mercadante - telefonou uma hora antes de fazer a entrega de parte do 1,7 milhão de reais que seria usado para comprar o dossiê. Esse caso vinha sendo esquadrinhado pelo promotor José Carlos Blat desde junho de 2007. Ele envolve desvio de dinheiro dos cooperados e de fundos de pensão de empresas estatais injetado na cooperativa. Os recursos originalmente destinados à aquisição de casas próprias para os cooperados foram desviados de forma cruel e criminosa. Diversas particularidades dão ao episódio a dimensão de escândalo político nacional. Uma delas é a participação nas malfeitorias de homens do dinheiro do PT. Eles foram agentes ativos dos crimes de desvio das verbas da Bancoop e seu carreamento para financiar campanhas eleitorais do partido. O curioso é que isto tudo os sherloques da Polícia Federal, autêntica polícia política do PT, não viram, não souberam, não quiseram saber.

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