sábado, 24 de abril de 2010

Ciro Gomes, segundo o jornalista Reinaldo Azevedo

É… Ciro Gomes foi cem por cento Ciro Gomes na entrevista ao SBT Brasil. Repetiu tudo o que está no texto assinado por Eduardo Oinegue, publicado no iG, mas negou que tenha concedido uma entrevista ao portal… Vai ver o jornalista desenvolveu o dom da adivinhação. Atacou, como de hábito, José Serra — que trataria, segundo ele, os adversários como inimigos —, mas repetiu que o tucano está mais preparado para governar o Brasil. Num particular, e bastante relevante, Ciro avançou um tanto mais. Já chego lá. Ciro admitiu que Lula e o PT atuaram para desidratar sua candidatura e voltou a criticar José Dirceu, que teria ido à casa de seu irmão, o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), para fazer ameaças: o PT retiraria o apoio a Cid caso Ciro fosse candidato pelo PSB “Esse (José Dirceu) eu já mandei pastar”. Dirceu ser um dos coordenadores da campanha de Dilma é, segundo Ciro, um dos erros cometidos pelo PT: “Um desacato ao Judiciário e à opinião pública”. Disse que os primeiros movimentos de Dilma o deixaram arrepiado: a visita ao túmulo de Tancredo e a ida ao Ceará, “sem nem um telefonema”. E emendou: “Não porque eu seja um coronel, mas porque eu sou candidato, caramba!” Ciro não se disse ainda um não-candidato — já que seu partido toma a decisão oficial na terça-feira —, mas sabe que está fora do jogo. Foi ambíguo sobre o futuro: num dado momento, afirmou que obedecerá às diretrizes do partido; noutro, que vai cantar em outra freguesia, dando a entender que deixa o PSB. Na “não-entrevista” (!!!) ao iG, Ciro afirmou que o PT recorreria de novo a coisas como o dossiê dos aloprados. Na entrevista ao SBT Brasil, ele se estendeu um pouco mais: deu a entender que o governo já mobilizou o Ministério da Justiça para tentar envolver o candidato do PSDB à Presidência com supostas irregularidades da Alstom. A posição de Ciro é serena se comparada àquilo que Lula e o PT fizeram com ele. Jamais vi um aliado tão fiel ser tratado com tamanha descortesia. “Descortesia”? A palavra não cabe porque isso é ofensa de salão. O ex-governador do Ceará foi vítima é de brutalidade mesmo. E é o que sempre acontece com qualquer um que tente ter uma relação minimamente altiva com o PT e, particularmente, com Lula. Já escrevi que Ciro nunca entendeu a natureza do partido e a raiz intelectual de sua formação, que não compreende um governo de coalizão coisa nenhuma! Coalizão significa unir as principais forças políticas do País, concentrando-se no que se considera essencial. Os petistas só entendem a relação de subordinação, e aqueles que se juntam a seu “projeto” têm de ter a cara que tem o PMDB lulista, este liderado por gigantes morais como José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá. Ciro foi convidado a fazer parte desse festim e a ter um naco do poder, como um peemedebista qualquer, regalando-se com alguma divisão do governo, onde pode fazer seus pequenos grandes negócios. O deputado do PSB queria mais: queria ser protagonista na política. Não existe esse espaço no PT. Lula foi esvaziando Ciro com a técnica e a paciência de um taxidermista. Tirou-lhe a vitalidade eleitoral e o encheu de palha, de modo que ele pudesse conservar, durante algum tempo ao menos, a aparência de figura relevante na sucessão. Até que chegou a hora do golpe: a visita de Dilma Rousseff ao Ceará, o que, vamos convir, foi de um desrespeito brutal. Notem que narrativa interessante: o petista levou Ciro a transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo e despachou Dilma para fazer embaixadinha no Ceará. Em suma: deu-lhe de presente o que ele jamais terá — São Paulo — e tentou lhe roubar o que ele tinha: o Ceará. O jornalismo amigo do PT tentou atribuir a visita de Dilma àquele estado a um erro da candidata ou da coordenação de campanha. Bobagem! Pode até ter sido um erro, mas cometido pela cúpula do partido. Nem isso cabe a Dilma decidir. Não custa lembrar que até para evocar palavras de otimismo, como fez no programa do tal Datena, ela recorre a Lula — ou, pior, à mãe de Lula. A forma como o lulo-petismo trata um aliado dá conta do que esse gente gostaria de fazer com adversários. O escândalo dos aloprados, que Ciro relembra em sua entrevista, dá uma pista. O PT tem um norte moral: tudo o que não serve à hegemonia do partido deve ser destruído. E, bem…, no que diz respeito à relação Ciro Gomes-PT, não foi por falta de aviso.

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