terça-feira, 20 de abril de 2010

Último ditador argentino é condenado a 25 anos de prisão

Um tribunal de Buenos Aires condenou, nesta terça-feira, a 25 anos de prisão, o ex-ditador argentino Reynaldo Bignone, um general de fancaria, por detenção ilegal e tortura de 56 presos políticos, entre outros crimes de lesa humanidade, cometidos no Campo de Mayo, maior centro clandestino de detenção do último governo ditatorial (1976-1983). Reynaldo Bignone, de 82 anos, foi o último ditador da Argentina, de 1982 a 1983. Outros cinco ex-comandantes da ditadura militar, cúmplices de Bignone nos crimes cometidos, receberam penas de 17 a 25 anos de prisão. Os ex-generais Santiago Omar Riveros, ex-comandante do Instituto Militar, e Fernando Verplaetsen, ex-chefe da Inteligência do Campo de Mayo, foram condenados a 25 anos. O ex-militar Carlos Tepedino, a 20 anos. Já os antigos militares Jorge García e Eugenio Guañabens Perelló foram sentenciados a 18 e 17 anos de prisão, respectivamente. O ex-policial Germán Montenegro foi absolvido. "É preferível a condenação que o repúdio de meus superiores e subalternos, que junto comigo combateram os horrores dessa guerra contra o terrorismo", afirmou Bignone aos juízes em sua extensa declaração antes da sentença. Reynaldo Bignone foi designado presidente em 1º de julho de 1982 em substituição ao general de fancaria Leopoldo Galtieri, depois da derrota argentina na guerra com o Reino Unido pela soberania das ilhas Malvinas. Ele declarou a guerra, invadiu e ocupou as ilhas Falklands, enquanto toda a esquerdopatia argentina também declarava apoio a esta aventura que buscava dar uma sobrevida à ditadura militar. Em uma resolução aplaudida por familiares das vítimas, o tribunal ordenou a revogação da prisão domiciliar que até hoje cumpriam Bignone, Tepedino e Guañabens Perelló, que deverão ser levados a uma penitenciária comum junto aos demais condenados. "Como os nazistas, vai acontecer o mesmo, para onde forem, iremos buscar", cantaram em coro dezenas de familiares e ativistas de direitos humanos, no fim da audiência. Os presentes romperam o silêncio que dominou a leitura da sentença, para aplaudir as condenações ditadas contra Bignone e outro grupo de ex-comandantes, em um tribunal da periferia oeste de Buenos Aires, onde foram levantadas fotografias das 56 vítimas. Os crimes ocorreram entre 1976 e 1978, quando Bignone chefiava a guarnição do Campo de Mayo, cujas masmorras chegaram a manter 4.000 opositores ao regime, incluindo muitos desaparecidos. O Campo de Mayo também abrigou uma maternidade clandestina que permitiu o roubo de bebês e a mudança de suas identidades para que as crianças fossem entregues a outras famílias. Bignone assumiu o poder em 1982, após a derrota militar contra o Reino Unido nas Ilhas Malvinas, e entregou o governo em dezembro de 1983, a Raúl Alfonsín, primeiro presidente eleito após o retorno à democracia, morto há um ano. Em sua curta gestão, o ditador negociou a transição para a democracia, ordenou a destruição de todas as provas da repressão ilegal e ditou uma lei de pacificação nacional para beneficiar os membros das Forças Armadas, norma posteriormente cancelada pelo governo constitucional ao considerá-la uma "auto-anistia". Durante o julgamento, que começou em novembro passado, cem testemunhas foram ouvidas, entre elas Héctor Ratto, sobrevivente do centro de torturas e ex-trabalhador da montadora alemã Mercedes-Benz, que acusou a empresa de ser cúmplice do regime. Diante dos juízes, Bignone voltou a admitir que o regime fez milhares de pessoas desaparecerem, mas disse que foram apenas 30 os casos dos bebês roubados e entregues a outras famílias, apesar de a Justiça calcular esse número em 500, dos quais 101 já recuperaram sua identidade.

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