quarta-feira, 5 de maio de 2010

Investigação da Polícia liga secretário nacional de Justiça ao chefe da máfia chinesa

Gravações telefônicas e e-mails interceptados pela Polícia Federal durante investigação sobre contrabando ligam o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, ao principal alvo da operação, Li Kwok Kwen, apontado como um dos chefes da máfia chinesa em São Paulo. A relação de Tuma Júnior com Kwen, também conhecido como Paulo Li, foi mapeada ao longo dos seis meses da investigação que deu origem à Operação Wei Jin, deflagrada em setembro de 2009. Paulo Li foi preso com mais 13 pessoas, sob a acusação de comandar uma quadrilha especializada no contrabando de telefones celulares falsificados, importados ilegalmente da China. Ao ser preso, Paulo Li telefonou para Tuma Júnior na frente dos agentes federais que cumpriam o mandado. Dias após a prisão, ao saber que seu nome poderia ter aparecido no inquérito, Tuma Júnior telefonou para a Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, onde corria a investigação, e pediu para ser ouvido. O depoimento foi tomado em um sábado, para evitar exposição. Tuma declarou que não sabia de atividades ilegais de Li. O surgimento do nome Tuma Júnior no inquérito seguia em segredo até agora. É óbvio que o conteúdo das conversas nas gravações deixam evidente a mentira de Tuma, de que não sabia das atividades irregulares do chinês. Além de ocupar um dos postos mais importantes da estrutura do Ministério da Justiça, Tuma Júnior preside, desde o último dia 23 de abril, o Conselho Nacional de Combate à Pirataria. Leia trechos das conversas interceptadas pela Polícia Federal:
25 jul 2009
11h05min26s
Tuma Jr. diz a Paulo Li que precisa encontrá-lo. Li diz estar com muitos problemas e que também gostaria de falar com o secretário. No mesmo telefonema, Tuma Jr. pergunta a Li se chegou um aparelho de celular sobre o qual haviam conversado. O secretário pede que Li providencie um videogame importado.
Tuma Jr. - Vamos encontrar à noite pra gente conversar e ver como é que tá (sic) as coisas.
Paulo Li - P., precisa conversar, viu? Muito problema, precisa conversar.
Tuma Jr. - Quer ir sete e meia?
Li - Sete e meia, tá bom?
(...)
Tuma Jr. - Escuta, aquele telefone do Fran chegou, não?
Li - P. que pariu! Chegou uma que não é aquele lá! Chegou preto.
Tuma Jr. - Igual aquele?
Li - Igual aquele lá, mas preto.
Tuma Jr. - É 1.600 também?
Li - Eu trazer pra você ver.
Tuma Jr. - Traz pra mim (sic) ver.
Li - Chegou, mas ninguém tem no Brasil. Ninguém tem. Só esse aqui.
Tuma Jr. - Se for igual, eu troco e dou o meu pra ele. Fica frio.
Li - É, mas não fica bonito. É preto, né caralho!
Tuma Jr. - Deixa eu te falar: lá na Vinte e... lá na Paulista vende aquele jogo Wii?
(...)
Tuma Jr. - Dá pra saber quanto é que é? Eu preciso comprar pra Renata mas na Europa tava caro.
Li - Eu vou, vou dar uma passadinha lá pra ver, tá bom?
Tuma Jr. - Tá bom (...) Daí me fala, aí eu já levo o dinheiro pra você.
Li - Tá bom, Tá bom.
Tuma Jr. - Até já, tchau.
27 Jul 2009
20h16min09s
Por telefone, Tuma Jr. dá satisfação a Paulo Li sobre um dos processos de seu interesse. Trata-se de um pedido de legalização de permanência no Brasil, em trâmite no Ministério da Justiça. Li aproveita para cobrar de Tuma Jr. providências sobre o andamento de outro procedimento. O secretário afirma que transmitirá a demanda a um d re seus subordinados, o diretor do Departamento de Estrangeiros do MJ, Luciano Pestana.
Tuma Jr. - Deixa eu te falar: você tinha pedido um negócio pro Luciano de 'Uang Hualin Chen Ian'.
Paulo Li - Caramba. O quê que é isso?
Tuma Jr. - Ah, não sei. Era uma permanência. Já tá publicado já, tá?
Li - Ah, é. Daquele negócio lá (...) Tá bom, tá bom, jóia. Que mais?
Tuma Jr. - Publicou dia 16 de julho.
(...)
Li - Como é que chama o cara?
Tuma Jr. - É. Uang Haulin...
(...)
Tuma Jr. - Como é que é o nome do Tomas?
Li - Tomas?
Tuma Jr. - É. É Fang 'Tche', é isso?
Li - Fang Ze? Fang Ze é o Tomas. Fang Ze. É.
Tuma Jr. - Como é que fala? Como é que escreve? Fang?
(...)
Li - É, verificar quando que ele chegou aqui no Brasil. Publicou no (ininteligível) permanente dele. Quinze anos contando aquele data.
Tuma Jr. - Quinze anos de permanência. Tá. Eu vou ver aqui.
(...)
Li - Ah, tá bom, tá bom. Você vai ver negócio pra mim, né? Tá bom, então.
Tuma Jr. - Tô vendo tudo já.
Li - Pelo amor de Deus! Porque...
Tuma Jr. - Eu vou passar pro Luciano. Ele vai ver... Vai esclarecer isso aqui.
Li - Esclarecer... E o, e o... Não, não é só esclarecer, né?

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