terça-feira, 11 de maio de 2010

Polícia Federal vê gabinete de Tuma Junior como “central de favores”

A mesma investigação da Polícia Federal que descobriu ligações estreitas do secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, com o homem apontado como um dos chefes da máfia chinesa em São Paulo, revela em detalhes a maneira como ele e seus auxiliares mais próximos transformaram seus gabinetes, em Brasília, a poucos metros de onde despacha o ministro da Justiça, numa central de solução de problemas de amigos, familiares, aliados e até de escritórios de advocacia com interesses no ministério. Os diálogos e documentos colhidos ao longo da investigação mostram Tuma Júnior e assessores usando a secretaria, e o prestígio dos cargos que ocupam, para, por exemplo, agilizar processos de naturalização de estrangeiros ilegais e obter na Polícia Federal a emissão a jato de passaportes para atender pedidos que chegavam diariamente por telefone. O inquérito também aponta relações suspeitas dos assessores do secretário com acusados de espionagem ilegal e revela lobby do próprio Tuma Júnior para aprovar um pedido de indenização em favor do pai de um assessor. Os auxiliares de Tuma Júnior, que mais aparecem nas gravações telefônicas, são o policial federal Paulo Guilherme Mello, braço direito do secretário no Ministério da Justiça, e o delegado Luciano Pestana Barbosa, da Polícia Federal, diretor do Departamento de Estrangeiros, um dos principais órgãos da Secretaria Nacional de Justiça. Paulo Mello era alvo da Polícia Federal desde o começo da investigação, aberta inicialmente para apurar fraudes na emissão de passaportes. Foi escutando os telefones do policial federal Paulo Guilherme Mello que a Polícia chegou depois ao chinês Li Kwok Kwen, o Paulo Li, e mapeou seu esquema de importação ilegal de celulares pirateados da China. A investigação se desdobrou e originou duas operações, a Wei Jin, que mirou os negócios de Li, e a Linha Cruzada, que levou à prisão de dois arapongas aposentados suspeitos de espionagem ilegal. Tuma Júnior e Luciano Pestana foram gravados ao falar com Mello e Paulo Li. Em diferentes pontas da investigação surgem suspeitas sobre o grupo. O policial Mello era uma espécie de "faz-tudo" na gestão do peremptório Tarso Genro e do seu secretário nacional de Justiça, a ponto de a Polícia Federal escrever em um dos relatórios de inteligência que Tuma Júnior se vale de seus serviços para “resolver eventuais problemas que lhe possam incriminar”, é personagem recorrente. Em um dos diagramas de inteligência que estabelecem a relação entre os alvos, os investigadores apontam o assessor como elo entre escritórios de advocacia e o Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça, cuja função é recuperar valores enviados ilegalmente para fora do País. A estrutura do DRCI é subordinada a Tuma Júnior e tudo isso na gestão do peremptório ex-ministro Tarso Genro. Ele tem muito a explicar.

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