quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Ao comentar "O Príncipe", Fernando Henrique Cardoso pede silêncio a Lula

Em debate com o escritor Salman Rushdie sobre o livro "O Príncipe", o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou o uso do paternalismo na política e disse esperar que o presidente Lula se torne um ex-mandatário que se mantenha em silêncio. Fernando Henrique Cardoso e Rushdie conversaram em inglês por meia hora, no centro de Paraty, em ato de promoção de nova edição do livro de Nicolau Maquiavel (1469-1527) lançada pelo selo Penguin Companhia. O ex-presidente, autor do prefácio da nova edição, procurou contextualizar o livro, lembrando que foi escrito à época de formação dos Estados nacionais, citando que, para Maquiavel, a política se explicava pelas ambições, forças e fraquezas humanas. Rushdie, autor de "A Feiticeira de Florença" (2008), livro em que mescla realidade e ficção para narrar a história de um mercenário amigo de infância de Maquiavel, afirmou que "O Príncipe" não é um "manual para tiranos", mas uma narrativa sobre a possibilidade de ser poderoso e, ao mesmo tempo, bondoso e justo. Rushdie rememorou que, à época de Maquiavel, os principais ameaçadores do príncipe eram seus parentes diretos, irmãos e até filhos. Fernando Henrique Cardoso comentou que o objetivo de quem estava no poder era manter-se no poder. "Hoje há eleições, isto não é mais possível. Mas há quem queira ficar", disse em tom irônico. Rushdie definiu como "republicana" a tradição nos Estados Unidos de ex-presidentes manterem-se em silêncio. Fernando Henrique Cardoso, sorrindo, interrompeu-o: "Sou um ex-presidente que não fala. O Lula também acha que ex-presidente não deve falar. Estou esperando para ver como se comportará".

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