sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Aécio assedia aliados de Lula e opera para conquistar presidência do Senado

Com apoio de partidos da base governista, o senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG) deflagrou articulação política para conquistar a presidência do Senado, acenando em troca com apoio para os parceiros de empreitada controlarem a Câmara dos Deputados. Na chamada “operação Aécio”, bancada por PSDB e DEM, e com o apoio informal de setores do PSB e do PP,  podendo ter a adesão de PDT e PCdoB, seria formada uma ampla aliança entre esses partidos, o que garantiria ao grupo uma expressiva quantidade de votos na Câmara e no Senado, ameaçando a parceria entre PMDB e PT para controlar as duas Casas. No Senado, a soma do bloco de oposição formado por PSDB, DEM e PPS garante 18 votos, total que pode subir para 21, com a adesão de senadores dissidentes do PMDB. É pouco para impor perigo à dupla PMDB-PT. Mas a costura de um acordo com PP (5 senadores), PDT (4 senadores), PSB (3 senadores) e PCdoB (2 senadores) mudaria esse patamar para 32 senadores, o que garantiria uma largada forte nessa disputa contra outros 17 senadores do PMDB e 14 do PT. Assim, a decisão da questão se daria através da captura dos votos de partidos mais flutuantes, como PTB e PR, por exemplo. É um jogo bruto, porque o poder de fogo do governo federal é muito grande e pode fazer com que parlamentares da base governista desistam de embarcar no projeto de Aécio "Silvério dos Reis" Neves, sob pena de retaliação política. Dentro do Palácio do Planalto ainda não surgiu a ordem para explodir os planos tucanos. Mas apenas a existência dessa movimentação já preocupa o governo, que não deseja ver um adversário em potencial da próxima disputa presidencial comandando a pauta e a agenda do Senado e deve atuar para impedir sua vitória. A negociação de Aécio "Silvério dos Reis" Neves preocupa mais ainda ao PMDB, que sempre tem a Presidência de pelo menos uma das duas Casas e não quer abrir mão desse poder. Quando conquistou a presidência da Câmara, em 2001, Aécio "Silvério dos Reis" Neves se movimentou de forma semelhante, atraindo apoio de partidos adversários, e derrotou, na época, o favorito Inocêncio Oliveira, então do PFL. Na ocasião, os tucanos também não tinham a maior bancada em nenhuma das duas Casas. Em compensação, tinham o controle do governo federal, com o presidente Fernando Henrique Cardoso, o que facilitou a tarefa. Agora, alinhado com a oposição à presidente eleita Dilma Rousseff, Aécio "Silvério dos Reis" Neves terá muito mais problemas para fazer a operação avançar. Sem dúvida, os tempos mudaram, e a mudança não serviu para engrandecer os homens públicos. No caso de Aécio "Silvério dos Reis" Neves, serve para comprovar que, além de playboy e "festeiro", que adora andar com seus amiguinhos milionários, ele não tem dimensão política, ideológica, nem histórica e ética. Para começar, Aécio "Silvério dos Reis" Neves não sabe respeitar o resultados das urnas, não dá a menor importância para o resultado eleitoral, não respeita a vontade dos eleitores, que decidiu que ele deveria fazer oposição. Tanto Aécio "Silvério dos Reis" Neves quanto o presidente de seu partido, o neocoronel pernambucano senador Sérgio Guerra, são figuras menores. Em plena ditadura, quando era muito até fazer oposição no País, pelas razões óbvias, porque qualquer cidadão estava arriscado a desaparecer sem deixar rastros, os oposicionistas, em todos os níveis da vida nacional, não deixavam de fazer oposição, da maneira como era possível. Em 1976, apenas oito meses após o assassinato de Vladimir Herzog no Doi-Codi de São Paulo, o então senador Paulo Brossard, do MDB (partido de oposição, contrário à Arena, partido da ditadura), fazia discurso na tribuna do Senado Federal, como líder da oposição, para reclamar do não cumprimenro, por autoridades policiais do Estado do Rio de Janeiro de decisão do Supremo Tribunal Federal, que julgou ilegal a detenção do menor Cesar de Queiroz Benjamin. Sabem que era esse menor? Era o Cesinha, que chefiou campanha à presidência de Lula contra Fernando Henrique Cardoso. Cesinha foi um dos fundadores do PT e saiu do partido por discordar de suas práticas. Foi ele que escreveu artigo no jornal Folha de São Paulo dizendo que Lula, quando esteve preso no Dops, em São Paulo, sob a guarda de Romeu Tuma, tinha como sua distração, entre outras coisas, assediar o "menino do MEP". Nesse mesmo ano de 1976, o senador Paulo Brossard ocupou a tribuna para ler ofício que seu partido, o MDB, havia enviado ao ministro da Justiça, "dando ciência dos motivos pelos quais se abstém de participar das reuniões do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, tendo em vista conceitos sobre o assunto emitidos na presente sessão pelo senador José Lins". Era assim que se fazia oposição, cutucando fortemente o governo militar sobre todos os aspectos. Nessa mesma década de 70, Paulo Brossard assumiu a tribuna para ler "declaração, em nome do MDB, referente a decisão daquele partido de não integrar a Mesa Diretora do Senado que dirigirá os trabalhos da Casa no biênio 1979/1980". Quanta diferença na estatura política e ética entre os parlamentares daquela época e os de hoje. Mas, valem as lições de Paulo Brossard sobre as obrigações de um oposicionista, porque as imposições ditatoriais são hoje quase tão grandes quanto as daquela época.

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