sábado, 27 de novembro de 2010

Banco Central tenta alinhar expectativas por alta da Selic

O Banco Central tenta alinhar as expectativas do mercado para uma alta iminente dos juros ao mencionar as condições de crédito como um fator de definição da política monetária, após meses de previsões díspares sobre a Selic. Em uma reunião com economistas normalmente usada para colher informações, e não emitir pronunciamentos, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, citou na quinta-feira o desenrolar do caso Panamericano para passar a mensagem de que um fator contra a alta dos juros já não existe mais. Além disso, o Banco Central fez questão de tornar públicas essas declarações ao divulgar o vídeo do encontro. "O relevante é que o Banco Central tinha a informação já para o Copom de julho e, certamente para o de setembro, que tinha um problema", afirmou Meirelles, que considerou haver "um risco importante" para as condições de crédito futuras, ainda que num primeiro momento o Banco Central não conseguisse identificar a fonte do problema. Em julho, o Copom elevou os juros para o atual patamar, a 10,75%, e contrariou as expectativas de parte dos agentes, que previam uma elevação maior. "Dá a sensação de que ele achava que poderia ter aumentado o juro e não aumentou. Como agora tem inflação e o Panamericano está equacionado, deve ter alta", disse André Perfeito, economista da Gradual Investimentos, que participou da reunião do Banco Central com economistas em São Paulo. Para Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco WestLB do Brasil que também compareceu ao encontro, foi "um recado muito forte": "Só não subiram mais antes por causa do crédito". A fraude contábil no Banco Panamericano foi revelada somente em 9 de novembro, com a divulgação de um aporte de R$ 2,5 bilhões do acionista controlador, o grupo Silvio Santos. As atas das reuniões do Copom de julho e de setembro não traziam nenhuma menção a riscos para o crédito. O recente aumento da inflação, pressionada pelos custos dos alimentos, já criava apelos para uma alta do juro. Mas, após a interrupção surpreendente do ciclo de aperto monetário, o mercado não interpretava os sinais do Banco Central de maneira uniforme. Para um economista que participou da reunião, mas não quis ser identificado, a justificativa de que os juros não subiram por causa do banco Panamericano "é conversa para boi dormir". "Acho que não aumentou por uma série de outras questões também. Teve o período eleitoral que trouxe ruído. E existia uma visão de que o cenário externo ia contribuir de forma benigna pra inflação", completou o economista.

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