terça-feira, 2 de novembro de 2010

Jornal inglês The Guardian afirma que decepção com Dilma será inevitável

Os eleitores brasileiros optaram pela continuidade do "lulismo" através de Dilma Rousseff, mas a decepção com a próxima presidente será inevitável, na avaliação de um editorial publicado nesta terça-feira pelo diário britânico "The Guardian". "Inevitavelmente, ela decepcionará. Após dois mandatos, Lula tem o status de uma entidade divina no país", afirma o editorial. O jornal comenta que Lula conseguiu tirar 20 milhões de brasileiros da pobreza extrema, elevar 30 milhões à classe média e reduzir o desemprego a níveis recordes, em "uma mudança que os brasileiros puderam sentir". Para o Guardian, Dilma é uma "tecnocrata de estilo rápido e direto" e assumirá a Presidência "em circunstâncias diferentes e com habilidades diferentes". "As questões administrativas de sua Presidência não devem lhe apresentar dificuldade, mas as políticas poderão. A bajulação e a sedução não são seu melhor papel, apesar de chegar ao poder com maiorias nas duas casas do Congresso", diz o texto. O jornal afirma ainda que o boom econômico vivido pelo Brasil pode também trazer desafios, com a ameaça de desindustrialização caso o País se acomode como exportador de commodities e não invista em seu setor manufatureiro. "Para isso, o País precisa combater os problemas mais difíceis, como salários, aposentadorias, sistema tributário e dívida pública, os quais Lula mostrou pouco desejo de reformar", diz o Guardian. Para o jornal, o trabalho de Dilma foi facilitado, mas ela deve enfrentar uma "lua-de-mel" com os eleitores mais curta do que a que Lula teve. Ainda assim, o diário conclui seu editorial afirmando que "a questão importante é que a visão de uma nação que tira milhões da pobreza enquanto sua economia cresce seja mantida viva". Também em editorial, o diário econômico britânico Financial Times adota linha parecida ao afirmar que os próximos quatro anos "serão mais difíceis" para Dilma do que foram os primeiros anos de Lula. Para o jornal, apesar de "continuidade ser a palavra da hora no Brasil", Dilma e Lula são pessoas com personalidades muito diferentes, o que deve deixar o País também diferente sob o novo comando. "Seria uma coisa ruim se não fosse diferente", diz o editorial. Para o Financial Times, o carisma de Lula e "sua capacidade para praguejar contra algo de manhã e elogiar à tarde" permitiram a ele superar obstáculos como os escândalos de corrupção durante seu governo. O jornal avalia que Dilma poderá ter dificuldades para manter coesa sua coalizão, "a não ser que Lula mexa seus pauzinhos nos bastidores, o que poderá trazer seus próprios problemas". O editorial adverte ainda sobre os perigos da frágil recuperação econômica mundial, do aumento dos gastos públicos e dos juros altos, que ajudam a inflar o fluxo de divisas para o País, num momento em que as autoridades brasileiras se dizem preocupadas com a "guerra cambial".

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