segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Governo Lula teria negociado com Estados Unidos apoio à oposição venezuelana

Documentos confidenciais do Departamento de Estado americano, obtidos pelo WikiLeaks, mostram que o gpvermp Lula teria oferecido, em 2005, apoio a opositores do governo de Hugo Chávez na Venezuela em troca de autorização americana para vender aviões de treinamento Super Tucano. A proposta, revelada pelo jornal francês Le Monde, teria sido recusada pelos Estados Unidos, que viam na venda dos aviões um risco "real". Segundo os documentos relatados pelo Le Monde, o veto à venda de aviões de treinamento Super Tucano à Venezuela, que conta com tecnologia de empresas americanas, teria sido alvo de discussões entre os dois países. "O Brasil não quer que a Venezuela compre um avião fora da região. A aquisição de um aparelho mais avançado, dos russos, poderia provocar um desequilíbrio das forças aéreas da América do Sul", diz o documento secreto, datado de novembro de 2005. O governo brasileiro teria argumentado que o veto seria desnecessário, já que, em caso de instabilidade política, "a esquadrilha da Venezuela ficaria presa ao chão pela recusa de manutenção ou de reposição de peças, da mesma forma que os americanos fizeram com os F-16 venezuelanos". Então, a Embaixada Brasileira em Caracas teria proposto um acordo: em troca da autorização de Washington para vender os Super Tucanos, o Brasil apoiaria a ONG venezuelana Súmate, uma associação civil que se diz apartidária, mas que é opositora a Chávez. A proposta não foi aceita. Em outro telegrama, de 2006, os diplomatas americanos justificam a recusa: "a ação brasileira pela Súmate seria simbólica, enquanto os Tucanos seriam bem reais". Mais tarde, em 2009, a representação de Washington em Brasília lamentaria o veto ao Super Tucano, que estaria prejudicando a venda dos caças F-18 Super-Hornet na disputa com o francês Dassault Rafale e o sueco Saab Gripen. Os diálogos - e não raro as divergências - entre Brasil e Estados Unidos sobre a Venezuela continuariam nos anos seguintes. Em 2006, uma nota da diplomacia americana diz que "o Brasil não pode ser considerado como um país que está do nosso lado". Já em 2007, a diplomacia americana afirma que o governo de lula "crê que deve manter distância dos Estados Unidos para não comprometer sua capacidade de trabalhar com a Venezuela". Outro despacho de 2007 narra uma conversa entre diplomatas americanos e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. O chanceler teria afirmado que "os brasileiros não se sentem ameaçados por Chávez" e isolá-lo não seria uma boa estratégia. "Ele ladra mas não morde", disse Amorim. Em janeiro de 2008, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, teria feito outra avaliação, segundo telegrama secreto enviado a Washington. Para Jobim, Chávez seria "uma nova ameaça" para a estabilidade regional. "Os brasileiros consideram plausível uma incursão militar de Chávez em um país vizinho, dada sua imprevisibilidade", diz o relato. Segundo Jobim, dessa imprevisibilidade decorreria a criação do Conselho de Defesa Sul-Americano, um órgão que permitiria ao Brasil controlar as atividades militares dos vizinhos. Para os diplomatas americanos, o Brasil pretende competir com os EUA pela liderança regional. "O Brasil acha que está engajado em uma competição com os EUA na América do Sul e duvida das intenções americanas", diz um telegrama de novembro de 2009. O texto ainda completa: "O Brasil tem uma necessidade quase neurótica de ser igual aos Estados Unidos e de ser visto dessa forma". Também em novembro de 2009, a Embaixada Americana em Brasília comenta as convicções do secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Antônio Patriota: "Mesmo que Patriota conheça bem os Estados Unidos e esteja pronto para trabalhar conosco, ele não o fará em uma perspectiva pró-americana, mas sob as bases do nacionalismo tradicional da diplomacia brasileira".

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