quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Balança comercial brasileira mostra os grandes desacertos da política econômica e perigos ao País

Em meio ao turbilhão da posse do ministério do novo governo, passou despercebida a divulgação, no início da semana, de um dos principais indicadores econômicos do País: os resultados da balança comercial em 2010. O destaque foi o patamar alcançado pelas exportações, que atingiram US$ 202 bilhões, recorde histórico (Petrobrás tem grande peso, porque vende ao Exterior o petróleo que extrai, e importa o petróleo que refina no País). O que à primeira vista pode parecer um desempenho venturoso esconde algo bem perverso. Como as importações cresceram em um ritmo muito mais vertiginoso que o das exportações brasileiras, o saldo comercial despencou e foi a US$ 20,3 bilhões. Com queda de 20% em relação a 2009, representou o pior resultado do governo Lula. Mas deve piorar. As previsões de mercado captadas pelo boletim Focus do Banco Central prognosticam superávit comercial de apenas US$ 8 bilhões para este ano. Será a pior marca para o indicador em uma década. Em 2010, enquanto as exportações avançaram 31%, as importações cresceram 42%. A previsão oficial é de que as exportações se expandam 13% neste ano, ou seja, pouco mais de um terço do avanço anotado em 2010. Em contrapartida, com menor crescimento do PIB, as importações tendem a crescer menos desta vez. O mais grave é a diferença entre a composição (e, portanto, o valor) daquilo que o País compra e do que vende: no primeiro caso, produtos sofisticados e mais bem acabados, como automóveis, máquinas e equipamentos; no segundo, matérias-primas, alimentos e commodities em geral, mais baratos por natureza. Pela primeira vez, desde 1978, o Brasil exportou mais commodities do que produtos manufaturados. No ano passado, a participação das matérias-primas na pauta saltou de 40,5% para 44,6%, enquanto os bens manufaturados fizeram caminho inverso, caindo de 44% para 39,4% do total embarcado. A reversão é ainda mais impressionante: no início do século, manufaturados perfaziam 57% das exportações brasileiras. Ocorre que, na época da maior bonança financeira mundial, o Brasil engatou os vagões do seu comércio exterior na locomotiva chinesa e relegou a segundo plano mercados para onde tradicionalmente exportou bens de maior valor agregado, como os Estados Unidos e a União Européia. Como resultado, cultivamos hoje uma relação quase colonial com a potência emergente da Ásia. A China, para onde seguiram 15% das exportações brasileiras no ano passado, consome avidamente matérias-primas, alimentos e commodities minerais brasileiras. Processa-as e nos vende de volta bens acabados como aço, eletrônicos e até café torrado e moído, apesar de o Brasil ser o maior produtor mundial da bebida.  Pendurado no vigor chinês, o Brasil também está cada vez mais dependente da escalada das cotações internacionais, do minério de ferro e açúcar, por exemplo, para não ver seu saldo comercial escorregar para o vermelho. Até outubro, segundo a Funcex, enquanto o valor exportado pelo país aumentara 20% no ano, a quantidade embarcada crescera apenas 8%. O comércio internacional é uma das principais alavancas para o desenvolvimento econômico de uma nação. O que parece claro é que, nos últimos anos, o aproveitamento que o Brasil vem fazendo deste empuxo tem estado aquém do potencial exportador do País. Com o mercado de consumo interno em ebulição, a preferência tem sido por importar como nunca. Pode sair caro. O Iedi já vê o ano de 2010 como “um divisor de águas, por simbolizar uma penetração ímpar das importações industriais capaz de deslocar a produção nacional e deprimir o potencial de crescimento da indústria e da economia brasileira como um todo”. Efeito cristalino disso pode ser visto no total de empresas brasileiras que exportam e importam. Enquanto o universo das importadoras cresceu 33% nos anos Lula, atingindo 34.033 até 2009 (os dados consolidados de 2010 ainda não estão disponíveis), o de exportadoras subiu apenas 5,4%, para 19.823.

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