segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Começa julgamento de ex-ditador argentino por roubo de bebês

Um histórico julgamento foi iniciado nesta segunda-feira contra o ex-ditador argentino Jorge Videla e outros ex-militares, acusados de um plano sistemático de roubo e mudança de identidade de cerca de 500 bebês, filhos de desaparecidos, a maioria das crianças nascidas em cativeiro, nas prisões clandestinas. O infame general Jorge Videla, de 85 anos, chegou ao tribunal e sentou-se no banco dos réus junto ao último presidente da ditadura (1976-1983), o ex-general Reynaldo Bignone (responsável pela aventura trágica da invasão das ilhas Falklands), em um julgamento oral contra um total de oito réus, entre eles dois ex-almirantes, Antonio Vañek e Rubén Franco. "Fomos a herança de guerra do regime", disse na porta do tribunal uma das testemunhas e vítimas, Leonardo Fossati, de 33 anos. Ele é uma das 102 pessoas que recuperaram a identidade por conta do trabalho da organização Avós da Praça de Maio. Os pais de Fossati, ambos desaparecidos, militavam na organização União de Estudantes Secundários e na Juventude Peronista, quando foram sequestrados em 1977, sendo que a mãe estava grávida. "Nasci em uma delegacia. Uma família de muito boa fé me adotou. Mas graças às Avós da Praça de Maio encontrei minha verdadeira família e minha identidade", disse Fossati. O julgamento durará até o fim do ano e tentará provar a existência de um sistema destinado a se apropriar de nenês retirados dos presos políticos. Uma das principais "maternidades clandestinas" funcionou no Campo de Maio, a maior unidade militar do país (na periferia oeste de Buenos Aires), e outra na Escola de Mecânica das Forças Armadas (ESMA), onde as grávidas davam à luz encapuzadas. "Esperamos 30 anos para que houvesse justiça e para vê-los na prisão", disse Chela Fontana, mãe de Liliana, que foi sequestrada por um comando militar quando estava grávida de dois meses e meio. O casal continua desaparecido, mas o trabalho da silenciosa busca e investigação das Avós da Praça de Maio conseguiu recuperar em 2006 o filho roubado, Alejandro Sandoval Fontana, de Liliana Fontana e Pedro Sandoval. "De todas as perversões do Estado terrorista, roubar nenês e tirar a identidade deles foi a mais inacreditável", afirmou Adelina Alaye, de 83 anos, líder das Mães da Praça de Maio "Linha Fundadora".

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