quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O cheiro ruim que vem do banco Panamericano

Algo não fecha na chamada “Operação Panamericano”. O cheiro é péssimo e afronta o bom senso e a moralidade. A imprensa especializada que está cobrindo a questão do banco Panamericano parece estar pautada por algum ente estranho à lógica e deixa de fazer algumas perguntas essenciais.  Descobriu-se um rombo de R$ 2,5 bilhões no banco; o Fundo Garantidor (sempre chamado de “privado”) cobriu o rombo conhecido com um empréstimo correspondente ao valor; em troca, Silvio Santos deu suas empresas como garantia; soube-se depois que o rombo, na verdade, era de quase R$ 4 bilhões; o mesmo fundo teve de fazer um novo “empréstimo” (e ninguém perguntou qual foi a garantia adicional dada por Silvio Santos); os banqueiros do fundo toparam dar o dinheiro, mas exigiram que Silvio Santos vendesse o banco. Esse novo “empréstimo” de R$ 1,5 bilhão teve qual garantia? Àquela altura, o buraco do banco de Silvio Santos era de R$ 4 bilhões, e suas empresas estavam todas empenhadas ao tal fundo garantidor. E era preciso vender o banco (ou liquidá-lo), fazendo com que seu controlador arcasse com os custos da operação. Mas aconteceu uma mágica. Silvio Santos fazia jogo duro e ameaçava não vender o banco coisa nenhuma; e mandava avisar que o Banco Central o liquidasse. Se isso acontecesse, seria pior para o Fundo Garantidor, pois: a) arcaria com os R$ 2,5 bilhões da grana já posta lá; b) teria de suportar mais 2,2 bilhões para cobrir depósitos de clientes, somando R$ 4,7 bilhões. Mas, como desapareceram da equação as empresas de Silvio Santos dadas em garantia? Aí aconteceu o milagre do capitalismo macunaímico. Silvio Santos acordou devendo R$ 4,bilhões e sem suas empresas; foi dormir sem dívida e com o patrimônio de volta. Em um evento na história do capitalismo, o homem que estava com um espeto de R$ 4 bilhões nas costas impõs a solução a seus credores. Surgiu um comprador para o Panamericano! E esse "comprador" resolveu assumir tudo, inclusive o grande buraco do Banco Panamericano? Não, nada disso! O banco Panamericano foi vendido ao BTG Pactual, que pagou R$ 450 milhões pelas ações do Panamericano. O valor foi recolhido ao Fundo Garantidor de Crédito. Mas o buraco de R$ 4 bilhões, o que foi feito dele? Silvio Santos teria feito uma exigência: só faria o negócio se os R$ 450 milhões anulassem a sua dívida de R$ 4 bilhões. E o Fundo Garantidor de Crédito devolveria as suas empresas dadas como garantia.  E assim foi feito. Não é mesmo a maravilha das maravilhas do capitalismo caboclo? Da noite para o dia, o camelô aplicou um truque no capitalismo brasileiro e em seus competentes banqueiros; acordou devendo R$ 4 bilhões e, na prática, sem empresa nenhuma; foi dormir e já não devia um tostão e tinha de volta suas empresas, ali avaliadas, então, em R$ 2,5 bilhões; nunca antes na história deste paiz se viu algo parecido. E onde foi parar o rombo do banco Panamericano? Segundo consta, no tal Fundo Garantidor de Crédito. O pagamento do BTG a Silvio Santos, que repassou os papéis ao Fundo, foi feito em títulos. Se forem honrados agora, a entidade dos banqueiros toma um espeto de R$ 3,35 bilhões. Mas o comprador tem até 2018 para fazê-lo, com juros de 13% ao ano. Se esperar até lá, recolherá ao Fundo Garantidor de Crédito o valor de R$ 3,8 bilhões — o valor que foi emprestado, sim, mas só daqui a quase 20 anos. A história é muito suspeita. Mas o que há de errado nisso tudo? Bancos podem ser privados, mas lidam com a fé pública e podem causar estragos aos países. Por isso são uma atividade bastante regulada, que o governo acompanha de perto. Um banqueiro, e Silvio Santos era um, não pode sair por aí dando um pequeno truque de… R$ 4 bilhões. Qual é? O sistema era tão frágil a ponto de a liquidação do Panamericano ser considerada preocupante? Ora, dizem que não. Se não era, por que o privilégio, ainda que concedido “de banqueiro para banqueiro”? Algo fede nessa história, e parece ter tudo a ver com a saúde dos bancos. Existe um escândalo de natureza pública, sim, na raiz do que se pretende apenas uma imoralidade entre privados, ainda muito mal explicada: a compra de parte das ações do Panamericano pela Caixa Econômica Federal. Faz pouco mais de um ano, a Caixa Econômica Federal pagou R$ 739,2 milhões por 49% do capital votante do banco e 20,7% das ações preferenciais. Ou seja: um banco público e seus especialistas torraram uma montanha de dinheiro para comprar um banco quebrado, podre. Estamos diante de uma evidência: se o Banco quebra, o fato arranharia a imagem da Caixa Econômica Federal, que, até agora, passa incólume por tudo isso, como se tivesse feito um negocião, e que ficaria com um enorme mico nas mãos. Assim, a decisão do Fundo Garantidor de Crédito não privilegia apenas Silvio Santos, mas também livra a Caixa Econômica Federal de um gigantesco vexame. Pergunta: os generosos banqueiros brasileiros não estão recebendo pressão vinda de cima, com garantia de compensações, para fazer o que nunca se fez antes na história deste País? O Brasil do lulo-petismo, de fato, é diferente. No tempo de Fernando Henrique Cardoso, banqueiros quebravam, inclusive o outro avô de seus netos e um ministro seu. No novo modelo, eles começam recebendo socorro de banco público e terminam livres, leves e soltos, com o bolso cheio de bufunfa, numa operação dita “privada” absolutamente inexplicável e inexplicada.

Nenhum comentário: