quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Rodrigo Maia, presidente do DEM, elogia com entusiasmo corte no Orçamento feito por Dilma

Parlamentares da oposição condenaram o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento anunciado pelo governo, mas o presidente de um dos dois principais partidos de oposição, o DEM, elogiou a medida. Para o deputado federal Rodrigo Maia (RJ), presidente nacional do DEM, a presidente Dilma Rousseff está no “caminho correto”. “Nós aplaudimos a presidente Dilma. Este é o caminho correto. É preciso fazer contingenciamentos para se ter segurança e garantir governabilidade. Acho que a presidente está certa. Nós sempre defendemos isso”, disse Rodrigo Maia. O líder do DEM no Senado, senador José Agripino (RN), discordou. Ele disse considerar o corte uma “perda” para a população. “As emendas parlamentares são voltadas para investimentos. Ao cortar emendas, se perde em investimentos. Sou completamente contra esse corte”, afirmou o senador. Rodrigo Maia se disse favorável ao corte nas emendas parlamentares, cujo alcance ainda não foi confirmado pelo governo. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, apenas afirmou que os valores devem ser definidos nos próximos dias, mas que as emendas “evidentemente” serão atingidas. Para Rodrigo Maia, em um segundo momento, se o governo visualizar melhora na economia, as emendas poderão ser restauradas: “Emendas de bancada, ela pode cortar todas. O governo só libera para quem tem relações. Eu não vejo, num primeiro momento, problemas em contingência de emendas”. Agripino atribuiu a necessidade de corte de gastos ao que classificou como “gastança eleitoral”. “Depois da gastança eleitoral, agora só resta o remendo amargo dos cortes”, disse o senador. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), criticou os cortes anunciados pelo governo. “Cortar emenda de parlamentares ou contigenciar emendas não resolve a questão. Por que não vale o que os parlamentares querem e vale o que o governo quer? O que fica claro é que as promessas de Lula e de Dilma durante a campanha não serão cumpridas”. Segundo Sérgio Guerra, “a política do rolo compressor não se justifica diante de um grave problema fiscal”. Ele afirmou que o governo deveria ampliar o diálogo com a oposição: “O que o governo deveria fazer é discutir com a oposição qual seria a melhor forma de enfrentar essa crise fiscal, que omitiu durante a campanha e que continua omitindo". O líder do PSDB na Câmara, deputado federal Duarte Nogueira (PSDB-SP), afirmou que os cortes anunciados pelo governo não vão facilitar as relações entre Executivo e Legislativo: “Se esses cortes permitissem um aumento para R$ 600,00 do salário mínimo, como o PSDB propõe, acho que a gente poderia até discutir melhor, mas não é essa a intenção do governo”. Nogueira afirmou que o governo “errou a mão”. “Fez cortes em investimentos que têm o objetivo de melhorar a vida da população, fez cortes em emendas de bancadas e em emendas individuais e não fez cortes na agigantada estrutura estatal.” O líder tucano afirmou que vai conversar com todos os líderes dos partidos de oposição para analisar em detalhes a abrangência dos cortes anunciados pelo governo. “A partir daí vamos analisar que medidas tomar”, disse: “O que o conseguiu com isso foi o recorde de maior congelamento de recursos da história". Rodrigo Maia, presidente do DEM, aplaude o corte no Orçamento que o governo vai fazer. Ele usou este verbo mesmo: “aplaudir”. E ainda disse: “Sempre defendemos isso…” Não ficou claro quem é esse “nós”. Certamente não é o caso de um bom número de companheiros de partido.  Alguém poderia dizer, com certa ironia, que tal postura  explica a inanição do DEM. Enquanto o partido defende “corte” no Orçamento, o PT ganhou três eleições enfiando o pé nos gastos. Que tese é essa de Rodrigo Maia? O problema é outro. Que o governo vai ter de cortar a gastança, isso é consenso, ou melhor: é consensual que exista essa necessidade. Mas a um partido de oposição cabe ser um pouco mais incisivo e cobrador do que isso, não? Por que se chegou a esse estado? Qual foi o comportamento do governo Lula-Dilma em 2009 e 2010, preparando-se para a eleição? Se não for a oposição criticar  a farra que conduziu a economia a alguns nós, quem poderá fazê-lo? Certamente não serão os partidos da base. A fala de Rodrigo Maia indica bem a barafunda em que está metido o DEM e explica por que o partido murchou. De candidato a ser uma sólida agremiação conservadora, tornou-se uma legenda quase nanica, dividida em dois grupos. Pior: embora Maia ainda seja o presidente do partido, vê-se que ele não fala pela legenda, mas apenas em seu próprio nome, eventualmente de seu grupelho. Nem o senador Agripino Maia (RN), considerado candidato à presidência do partido, mais afinado com o grupo de Maia do que com o de Jorge Boanhausen e Gilberto Kassab, concorda com ele. Teria Rodrigo Maia cansado de ser oposição? Parece endêmico na família de Rodrigo Maia o cometer erros de avaliação histórica. Nesse cenários, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, espera a eleição da direção do DEM para decidir o que fazer. Uma das hipóteses é fundar uma nova legenda.  Poderia mudar de partido e alegar, na Justiça eleitoral, caso lhe tentassem tomar o mandato, que foi prejudicado por uma ursada feita pelo grupo de Rodrigo Maia numa ata oficial, o que lhe cassou poderes. É verdade. Deputados teriam dificuldades, no entanto, para seguir o prefeito. Alegariam o quê? Bem, com certo escárnio, dada a declaração desta quarta-feira de Rodrigo Maia, talvez pudessem dizer que esperavam estar num partido de oposição e se viram num partido de situação. Ocorre que o prefeito não está necessariamente liderando uma dissidência antigovernista. Nesta quarta-feira ele se encontrou com Eduardo Campos, governador de Pernambuco, chefe máximo do PSB, que o corteja. A lei que está aí, se não for mudada, abre uma brecha para o caso de criação de uma nova legenda. Nesse caso, Kassab pode, sim, levar uma fatia importante do DEM. O que é espantoso é que a atual direção do partido não faz o menor esforço em favor da união. Vejam o caso da declaração de Rodrigo Maia em defesa do corte do Orçamento. Um presidente de partido consulta suas bases antes de falar. Olímpico, declarou o que lhe deu na telha e pronto. Talvez tivesse em mente marcar uma diferença em relação ao PSDB, por exemplo, especialmente no dia em que José Serra visitava o Congresso.

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