terça-feira, 22 de março de 2011
Governo petista a caminho de reestatizar a Vale do Rio Doce
Do site do jornalista Francisco Barreira: "A conversa do ministro da Fazenda, Guido Manega, com o presidente do Bradesco, Lázaro Brandão, este fim de semana, não foi nada amena. Ambos (governo e Bradesco) são os principais acionistas da Vale do Rio Doce, hoje a segunda maior mineradora do Mundo e detentora das estratégicas reservas de Carajás que abrigam o minério de ferro de melhor qualidade e mais caro do Planeta. Muito bem: o governo simplesmente quer a cabeça do poderoso presidente da companhia, Roger Agnelli. E dá suas razões: quer que a Vale se alinhe aos objetivos estratégicos do País. Na sequência do raciocínio duas questões básicas servem de exemplo e são apontadas como as gotas d’água. A primeira é o da compra, pela Vale, de navios gigantes na Ásia, esnobando os estaleiros nacionais. A outra é o corpo mole de Agnelli em relação ao projeto de transformar a empresa de grande mineradora em grande siderúrgica no prazo de dez anos. Segundo o Planalto, a companhia (enquanto siderúrgica) tem tudo para se tornar imbatível em termos de qualidade e preço, em função de uma excepcional combinação logística: a usina, poderia ser instalada praticamente na boca da mina que já é servida por energia farta e barata (Tucuruí) e por ferrovias ligando aos principais portos exportadores. E claro que, com os preços do minério em alta e uma clientela assegurada, é bem mais cômodo manter a posição de mineradora, evitando desviar recursos para a siderúrgica. Mas aqui entra a questão: uma mega empresa de origem estatal e que recebe todo tipo de apoio logístico do governo deve ater-se ao objetivo exclusivo de obter altos lucros para seus acionistas ou deve, concomitantemente, engajar-se em um projeto estratégioco nacional? Reparem, por outro lado, que Lázaro Brandão, um dos homens mais poderosos do País, não discutiu a “sugestão” de Mantega e já vai providenciar a substituição de Agnelli, agora, na assembléia de acionistas marcada para abril. É que, bem informado sobre os meandros do poder (afinal ele não é sócio do Planalto apenas na Vale) Lázaro sabe que há um movimento latente nas hostes petistas bem situadas no governo que visa dar uma satisfação (combinada com uma faturada eleitoral) àquela parte da opinião pública que jamais concordou com a privatização. Pode estar sendo articulado um movimento pela reestatização. Movimento este que conta com o apoio do PMDB, por razões obviamente fisiológicas. O argumento de que depois de privatizada a Vale multiplicou por dez o seu patrimônio é uma falácia. Esse aumento só foi possível em função do apoio governamental e da alta vertiginosa dos preços dos minérios. Aliás, a Petrobrás continuou sendo estatal e, neste mesmo espaço de tempo, também multiplicou por dez o seu patrimônio. Mantega, depois de obter a promessa de que Agnelli seria removido, foi benevolente e deixou Lázaro à vontade para escolher um substituto nos quadros de executivos do próprio Bradesco. O terceiro maior sócio da Vale é a trading japonesa Mitsui. Os dois sócios principais são o Bradesco e o governo através do BNDES e de fundos de pensões, liderados pela Previ, dos funcionários do Banco do Brasil. O lucro líquido da gigante em 2010 foi de R$ 30,1 bilhões".
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