quarta-feira, 30 de março de 2011

Paulistanos trocam a capital por condomínios no interior

A paisagem ao redor de São Paulo está mudando. Entre as fazendas e plantações que circundam a cidade, é possível notar cada vez mais casas de alto padrão surgindo atrás de muros. É um movimento formado por um novo tipo de migrante: paulistanos das classes A e B que trocaram o agito e a insegurança da capital por uma vida mais confortável em condomínios fechados fora da metrópole. A química Juliana da Cunha Marques, de 39 anos, é um deles. "Sou uma paulistana que não aguenta São Paulo", brinca. Há dois anos, ela deixou o apartamento na Vila Leopoldina (zona oeste) para morar em uma casa com gramado, piscina e ofurô em Vinhedo (79 km de SP), ao lado do marido e da filha de um ano. "Não é que a gente não queria estar na cidade, mas é que, quando a gente volta para casa no Interior, recarrega as baterias", explica, com a propriedade de quem já morou na Holanda e no Canadá. Esses condomínios e loteamentos nos arredores de São Paulo se transformaram numa das febres do mercado imobiliário. Nos últimos três anos, surgiu um a cada cinco dias, segundo levantamento da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio). Ao todo, foram 22 mil terrenos em 212 loteamentos no período. Em dez anos, surgiram 85 mil lotes. Para comparar, é como se uma cidade como Barueri (com 240 mil habitantes) tivesse surgido na borda da Grande São Paulo. O "terreno" principal desse mercado são cidades que ficam a até 100 quilômetros da capital. Juliana e o marido, o engenheiro civil João Carlos Caiado, de 52 anos, fazem como boa parte dos habitantes dos condomínios-satélite: continuam no mesmo trabalho, em uma empresa às margens do rio Pinheiros (zona oeste), mas preferem encarar a estrada todos os dias e levar uma "típica vida interiorana" quando retornam para casa. O casal conta que conhece os vizinhos pelo nome e compra ovos caipiras na rua detrás. Nos finais de semana, leva as filhas para cavalgar numa fazenda nos arredores de casa. "Viver em um condomínio foi um pré-requisito", conta Juliana, ao falar da sensação de segurança no interior. Eles não desfizeram do apartamento na capital. O imóvel pode ser acionado em casos de "emergência", como um serão não planejado no trabalho. "Posso ficar porque sei que minha filha está bem em casa", diz ela. A mudança para os condomínios é uma espécie de "regionalização do cotidiano", define o vice-presidente do Interior do Secovi (sindicato da habitação), Flávio Amary. "O pai trabalha em São Paulo, o filho estuda em Campinas e a mãe mudou de emprego e agora trabalha em Itu", diz. "À noite, todos se reúnem para jantar em Itupeva, por exemplo." Um fator que ajuda a explicar esse fluxo é o custo da terra. "Quem tem um apartamento de 150 metros quadrados na cidade consegue comprar um terreno de até 1.000 metros quadrados, construir uma casa de 200 metros quadrados e ainda sobra um trocado para a poupança", calcula Luiz Paulo Pompéia, diretor de estudos da Embraesp.

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