domingo, 22 de maio de 2011

Milhares de uruguaios saem às ruas em silêncio para exigir verdade e justiça

Milhares de uruguaios voltaram a sair às ruas na sexta-feira para exigir verdade e justiça para os crimes cometidos durante a ditadura militar (1973-1985), após o Parlamento rejeitar um projeto para suprimir a lei que impede que crimes dessa época sejam julgados. Sob um silêncio assustador, rompido apenas pela leitura dos nomes das vítimas da ditadura, cujas fotografias acompanharam a marcha, os manifestantes caminharam sob o lema "Verdade e Justiça: direitos de todos e responsabilidade do Estado". Mais de 10 mil pessoas participaram da 16ª Marcha do Silêncio, que juntou cidadãos de todas as classes e condições e na qual se destacou a ausência de representantes do governo do presidente José Mujica. No entanto, estiveram presentes representantes do partido governista, o esquerdista Frente Ampla, principal impulsor da tentativa de eliminar no Parlamento a Lei de Caducidade, aprovada em 1986 e referendada em dois plebiscitos, em 1989 e 2009. Apesar de o projeto ter sido desenvolvido por seus companheiros de partido, o próprio presidente Mujica se mostrou contrário à medida e pediu que não ela não fosse votada, o que gerou duras críticas por parte de defensores dos direitos humanos e desconforto no seio do partido. Um dos porta-vozes da Associação de Mães e Familiares de Uruguaios Detidos Desaparecidos, Eduardo Piroto, assinalou que a intenção da mobilização continua sendo a "busca pela verdade". "Seguiremos exigindo que o governo lute pela verdade, que destrave o problema para que a Justiça possa agir livremente", disse Piroto. Da mesma forma se expressou Mauro Tomasini, da organização Serviço Paz e Justiça, que avaliou que, ao não ter eliminado a polêmica norma, o Uruguai segue falhando como estado, "ao não poder julgar seus próprios crimes". A Marcha do Silêncio lembra o assassinato, em 20 de maio de 1976, dos legisladores Zelmar Michelini, da Frente Ampla; de Héctor Gutiérrez Ruiz, do Partido Nacional; e dos militantes da guerrilha tupamara Rosario Barredo e William Whitelaw. Os quatro foram sequestrados em Buenos Aires antes de serem assassinados, um crime pelo qual já foram processados e condenados o ex-ditador Juan María Bordaberry e seu então ministro das Relações Exteriores, Juan Carlos Blanco.

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