quarta-feira, 29 de junho de 2011

Carreçúcar 1 - BNDES dá R$ 4 bilhões a Abilio Diniz por Carrefour

Contra a vontade do sócio francês Casino, o empresário Abilio Diniz se associou ao banco BTG Pactual e ao BNDES para comprar as operações do Carrefour no Brasil, formando um gigante sem concorrente à altura e com 32% do varejo supermercadista brasileiro. Para viabilizar o negócio, o banco BTG Pactual, de André Esteves, propôs uma complexa engenharia financeira que colocará os brasileiros na posição de maiores acionistas do Carrefour no mundo. No Brasil, Pão de Açúcar e Carrefour passarão a ter 2.386 pontos de venda em 178 municípios, com receita anual de R$ 65 bilhões. Já a nova empresa terá 11,7% do Carrefour mundial. Há temor de que o poder da nova rede se reflita nos preços aos consumidores, reduza o poder de barganha de fornecedores e motive a demissão de funcionários. O dinheiro para viabilizar o negócio, que será questionado no Brasil e no mundo pela defesa da concorrência, sairá do BNDESPar, braço de investimento do banco. Com o argumento de criar um “campeão nacional”, o BNDES já se comprometeu a aportar R$ 3,91 bilhões (85% do necessário), tornando-se sócio da empreitada, com 18% da empresa que nasce. A empresa já é chamada no governo de “AmBev do varejo”, em alusão à cervejaria brasileira que dominou o mercado global de bebida. Os R$ 690 milhões restantes (15% do total) virão de um fundo do BTG Pactual, que ainda emprestará R$ 1,15 bilhão à nova empresa. Luciano Coutinho, presidente do BNDES, justifica as práticas do banco no modelo desenvolvimentista de planejamento econômico. Coutinho disse que “o Brasil precisa ter campeãs mundiais”. A obsessão por “campeãs mundiais” pode fazer com que se perca a noção de que campeonato estamos disputando.  Mais uma vez o BNDES está pronto para se meter em uma aventura perigosa, injustificável sob todos os pontos de vista e claramente estranha, para não dizer contrária ao interesse público. A possibilidade de o BNDES financiar a fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour foi criticada por lideranças do PSDB no Senado. “Duas redes de varejo se casam e quem dá o presente é o Brasil, ou melhor, o contribuinte?”, questionou o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). Para o tucano, o repasse de recursos do banco de fomento para viabilizar a fusão entre duas empresas, sobretudo quando uma delas é uma multinacional, não se legitima. Uma ajuda dessa natureza somente se justificaria, disse Ferreira, em negócios que contribuiriam para o avanço do País, como no setor de política industrial ou ciência e tecnologia. “Daqui a pouco o BNDES vai contribuir para a fusão de salões de beleza”, ironizou. Para o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), o auxílio do BNDES ao negócio “se trata de uma transferência de dinheiro público para o setor privado com juros subsidiados, e quem subsidia é o contribuinte”.

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