segunda-feira, 13 de junho de 2011

Fifa impõe contratos com terceiros às cidades sedes do Mundial

A Fifa pressiona as 12 cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014 a "cooperar" nas licitações dos estádios e a contratar empresas patrocinadoras da entidade. Cópia de documentos que confirmam o lobby. Os papéis mostram que o departamento de marketing da Fifa e o Comitê Organizador Local (representante da entidade no país-sede do Mundial) atuaram em favor de uma fabricante de brindes, uma empresa de energia solar e uma seguradora. As três empresas são apresentadas como líderes de mercado e parceiras oficiais da Fifa, o órgão máximo de futebol, cujos dirigentes foram recentemente alvo de denúncias de corrupção, entre elas o pagamento de propina na eleição das sedes das Copas de 2018 e 2022. Entre os documentos estão um e-mail e uma apresentação de PowerPoint em que a Fifa manifesta interesse na contratação da parceira ADM para a confecção de brindes, como bonés e chaveiros. Os documentos são assinados pelo diretor de marketing da Fifa no Brasil, Jay Neuhaus. O recado: ou a sede contrata a ADM ou paga 17% de taxa de licenciamento caso opte por outra fabricante. As sugestões de contratação colocam as cidades-sedes diante de um impasse. Agradar à entidade, pedindo a consórcios e empreiteiras responsáveis pelas obras que contratem as empresas ligadas à Fifa ou, no caso de contratos pagos apenas com dinheiro público, seguir a Lei de Licitações, arcando, assim, com custos extras para atender ao padrão Fifa. Em e-mail de abril, enviado após alerta das cidades para as restrições da legislação, Neuhaus fez um pedido. "Esperamos ter a cooperação de vocês em adotar a ADM. Nós entendemos que as sedes, por serem entidades públicas, estão atreladas aos processos de licitação, porém esperamos encontrar uma forma de garantir que a ADM sempre faça parte deste processo", dizia o texto. No e-mail, o diretor da Fifa elogia a equipe da ADM como "a mágica do projeto". Há também e-mail enviado em janeiro deste ano aos coordenadores das 12 cidades-sedes e assinado por Carlos de la Corte, consultor do COL. De la Corte pede que a chinesa Yingli seja contatada por oferecer serviços de energia "alinhados" com a Fifa. E solicita às cidades que verifiquem "as possibilidades de parceria". De la Corte diz que a Yingli tem o selo de obra sustentável, exigência da Fifa para as arenas da Copa. O consultor do COL encaminha carta assinada pelo diretor-geral de marketing da Fifa, Thierry Weil, que diz que a entidade "considera que os produtos da Yingli Solar podem ser a melhor solução para a eficiência energética dos estádios da Copa". Weil e De la Corte pedem sigilo sobre o fato de a empresa ser patrocinadora da Copa. A parceria só foi anunciada oficialmente na última quarta, cinco meses após o envio do e-mail. O diretor-geral de marketing da Fifa também assinou outro ofício anunciando a Liberty Seguros como seguradora do próximo Mundial. O documento foi encaminhado por e-mail, por meio do COL, para 37 representantes das cidades-sedes. Weil pede aos coordenadores que contatem o patrocinador e destaca as qualidades da Liberty Seguros. Ou seja, essa Fifa é uma banca de negócios, e dos mais obscuros.

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