domingo, 10 de julho de 2011

Poeta Ferreira Gullar assegura, "o Brasil foi apropriado por uma casta"

O poeta Ferreira Gullar, sempre campeão de público em todas as edições da Flip a que compareceu, repetiu o feito: na manhã de sexta-feira, com plenário lotado, o poeta de 81 anos tratou das conexões entre poesia e política. Gullar fez graça logo no começo de seu depoimento ao dizer que não entendia nada do tema, somente dava palpites: "Política é uma coisa muito difícil. Não recomendo a vocês". Como exemplo, lembrou que a presidente Dilma Roussef está numa "saia justa", após a queda do ministro dos Transportes, porque não pode desagradar aos "40 deputados do partido que a apóiam". Uma hora e meia depois, após contar vários episódios e ler poemas, o tom de piada foi substituído por outro, mais sério e preocupado: "O Brasil foi apropriado por uma casta, do Congresso ao Senado". "Não sei como vamos sair disso. A minha esperança é o povo desorganizado, como ocorreu no Oriente", acrescentou Gullar. O poeta relembrou sua trajetória na poesia e na política: das primeiras experiências de vanguarda até a militância, que o fez passar por prisão, interrogatório e exílio. No início, fez parte do concretismo e, depois, do neoconcretismo. Uma de suas radicalizações artísticas na época foi, segundo ele, o "Poema Enterrado", que fez com Helio Oiticica, na virada da década de 1950 para a de 1960. Como muitos artistas e intelectuais de sua geração, Gullar entrou mais tarde para o Partido Comunista, em um tempo em que uma das principais causas era a reforma agrária. Foi quando passou a fazer poemas que hoje considera "extremamente políticos", até começar a se incomodar com o excessivo tom panfletário. Contou que, na época em que fazia parte do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, intrigou-se certo dia ao se dar conta de que, nas favelas, os adultos saíam e só as crianças assistiam às peças; nos sindicatos, os diretores ficavam, mas os funcionários não queriam assistir a elas. "Eu disse para o Oduvaldo Vianna Filho: 'Estamos pregando comunismo para quem já é comunista? Fazemos mau teatro e má poesia para nada?"

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