terça-feira, 16 de agosto de 2011

Desenvolvimentistas avaliam que mundo está à beira da recessão

O mundo desenvolvido está entrando em um ciclo de recessão. A previsão foi feita por economistas desenvolvimentistas reunidos em seminário na segunda-feira na Fundação Getulio Vargas, em São Paulo. "Estamos entrando em um regime de recessão. Salários baixos e corte de gastos públicos é uma combinação suicida", disse o economista alemão Heiner Flassbeck, diretor da Unctad (braço da ONU para o desenvolvimento e o comércio), sobre a economia americana. Ele observa que a decisão do Fed, o banco central americano, de manter as taxas de juros entre zero e 0,25% ao ano pelos próximos dois anos é uma "tentativa desesperada" de reativar a economia, e indica uma mudança de crença dos economistas. "Os Estados Unidos estão fixando taxas de juros. Isso depois de 20 anos acreditando que os mercados é que deveriam definir taxas de juros, câmbio e salários. Isso é uma mudança de paradigma", afirma. A avaliação dos economistas dessa teoria econômica é que a crise atual é resultado do baixo consumo e, a reboque, do baixo investimento. E não do excesso de endividamento das famílias e governos. E a estagnação econômica será inevitável caso sejam dadas respostas consideradas "neoliberais", como corte de gastos do governo. Flassbeck argumenta que os salários nominais nos Estados Unidos não aumentam há dois anos e que, na Alemanha, esse movimento tem 15 anos, sendo compensado pelo consumo em outros países da União Européia. "O sistema financeiro cobriu essa lacuna de baixo consumo, mas com a crise isso não é mais possível", afirma o economista americano Thomas Palley, da New America Foundation, para quem a falta de demanda, provocada pelos salários comprimidos, é a gênese da crise. "Como os salários estagnaram, a inflação da dívida se tornou o único combustível para a demanda". Para o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, a solução da crise via cortes de gastos não é a saída. "A solução clássica dada para a crise é baixar os valores dos salários, mas com isso se baixa a demanda", afirma. O professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo observa que os bancos americanos têm reservas de US$ 1,4 trilhão, "um empoçamento de recursos". E acrescenta que o governo dos Estados Unidos deve gastar com a geração de empregos e renda: "A política fiscal é necessária para manter a economia americana. Uma nova injeção de recursos no mercado teria poucos efeitos".

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