quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Bolivianos mantêm intensos protestos contra estrada na Amazônia

Mesmo após a queda de dois ministros e a suspensão das obras de uma polêmica estrada que deve cortar uma reserva indígena em áreas amazônicas, centenas de bolivianos saíram às ruas nesta quarta-feira e grupos de índios disseram que devem retomar sua marcha de protesto. Na capital, La Paz, mineiros lançaram bananas dinamites e a polícia agiu para conter os manifestantes, no que já se transformou numa das maiores crises enfrentadas pelo ditador indio cocaleiro Evo Morales. Os índios amazônicos bolivianos anunciaram nesta quarta-feira que irão retomar a marcha até La Paz contra a construção da rodovia, reafirmando um desafio político que abalou a liderança do governo boliviano. Construída pela empreiteira brasileira OAS com financiamento do BNDES, a estrada, que tem 306 quilômetros e atravessa uma reserva natural em áreas amazônicas de 1,2 milhão de hectares, deve custar US$ 415 milhões. Os indígenas amazônicos, que rejeitam a estrada porque a obra atravessará o Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), argumentam que a obra pode levar à ruína da reserva ecológica e à invasão da área por produtores de coca, planta base para fabricar cocaína. O ápice da crise, após 40 dias de intensos protestos de indígenas, militantes e civis por todo o país, ocorreu no domingo, quando o governo ordenou uma violenta ação policial, usando gás lacrimogêneo e cassetetes, para conter cerca de 1.500 manifestantes. Os índios, fortalecidos por uma onda nacional de solidariedade, incluindo uma greve parcial convocada pela Central Operária Boliviana (COB), declararam nesta quarta-feira em uma manifestação na localidade de Rurrenabaque, no norte do país, que "a luta continua". "Viva a histórica marcha pelo Tipnis, a marcha continua", disse uma resolução dos aproximadamente 200 indígenas presentes na assembléia, lida pela dirigente Mariana Guasanía. Diante da resistência ao projeto, Morales, que também é indígena, anunciou que o projeto ficará suspenso até que moradores das regiões afetadas se manifestem em referendo. A dirigente indígena disse que não há mortes confirmadas por causa do incidente, mas que dezenas de pessoas estão desaparecidas. Ao dar posse a novos ministros na noite de terça-feira, Morales pediu desculpas aos índios pela "imperdoável brutalidade" policial, negou ter ordenado a intervenção, e acusou vários meios locais de comunicação de distorcerem os fatos, especialmente ao noticiarem que havia vários mortos no local. O Itamaraty defendeu a obra, na segunda-feira, dizendo tratar-se de uma estrada importante para a integração boliviana. Já a empreiteira brasileira OAS, construtora da estrada, disse nesta terça-feira que confia que o governo local chegará a um acordo com as comunidades indígenas.

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