quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Prisão indiscriminada de subsaarianos na Líbia alerta para crise humanitária

Os rebeldes líbios empreenderam uma "caça às bruxas" entre os homens de origem subsaariana, que são acusados de terem sido mercenários do regime de Muammar Gaddafi, apesar de muitos deles serem imigrantes na Líbia em busca de condições de uma vida melhor. Para Isaha, o fim do jejum do Ramadã não é hoje motivo de festa. Com um lenço colorido, gritava e chorava sem consolo frente a um pequeno poliesportivo transformado em centro de detenção e situado a poucos metros do impressionante arco romano de Marco Aurélio, na medina histórica de Trípoli. Segundo seu relato, há dois dias, vários homens armados se apresentaram na porta de sua casa e levaram seu marido, algemado e com uma pistola apontada para ele. "Somos do Chade. Moramos em Trípoli, no mesmo lugar, há 10 anos. Meu marido é uma boa pessoa, um trabalhador e nunca teve arma alguma", relatou ela. "Tenho medo. Quero saber onde está, quero que volte. Me diga onde ele está", grita enquanto tenta descobrir o rosto de seu marido entre dezenas de prisioneiros que, rodeados por jovens rebeldes armados com um fuzil, são transferidos do edifício a um caminhão policial. O sol do meio-dia cai como uma bomba sobre a medina e o nervosismo entre os revolucionários e as famílias dispara ao tempo que o caminhão fecha as portas com mais de uma centena de homens entre 20 e 40 anos, de raça negra e olhar afligido. A possibilidade que as detenções escondam, na realidade, uma sistemática "caça às bruxas" para expulsar os subsaarianos alertam as organizações humanitárias e de defesa dos direitos humanos como Anistia Internacional, Médicos sem Fronteiras e Human Rights Watch. "Temos consciência da detenção de milhares de subsaarianos em Trípoli e em outras cidades do país, apesar de ainda não termos acesso aos locais onde são retidos", explica Peter N. Bouckaert, representante da Human Rights Watch em Trípoli. "Muitos foram inclusive atacados pelo simples fato de serem negros. Estamos muito, muito preocupados com sua segurança", acrescenta antes de pedir ao CNT (Conselho Nacional de Transição) que ponha fim às detenções.

Um comentário:

@MyrianDauer disse...

olha a primavera árabe aí, gente…