quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Com morte de Gaddafi, ditador de Angola vira africano há mais tempo no poder

A visita da presidente Dilma Rousseff a Angola nesta quinta-feira ocorre no mesmo dia em que seu anfitrião, o ditador José Eduardo dos Santos, obtém, junto com o guinéu-equatoriano Teodoro Nguema, o título de chefete africano há mais tempo no poder, após a confirmação da morte do líbio Muammar Gaddafi. Ditador de Angola desde 1979, quatro anos após o país tornar-se independente de Portugal, José Eduardo dos Santos, de 69 anos, chegou ao cargo no mesmo ano em que Nguema e um ano antes que o zimbabuano Robert Mugabe. Nas ruas de Luanda, a capital angolana, retratos do ditador ilustram numerosos outdoors, pôsteres e adesivos colados em carros de militantes do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), o partido no poder desde a fundação do país. O culto à personalidade do chefete ditador também é exercido pelos meios de comunicação oficiais: basta que o ditador receba algum visitante em seu palácio que o encontro pode se tornar a manchete do Jornal de Angola, único diário com alcance nacional. Mas as manifestações recentes que levaram à queda dos ditadores africanos agora respingam em Angola. Inspirados pela Primavera Árabe, jovens angolanos têm organizado protestos para exigir abertura democrática e o fim dos 32 anos de ditadura. Eles afirmam que as vastas riquezas naturais do país, segundo maior exportador de petróleo da África Subsaariana, têm enriquecido apenas uma elite corrupta ligada ao governo, ao passo que a grande maioria da população continua à margem do progresso. Os protestos vêm reunindo somente algumas centenas de manifestantes, mas assustaram o governo, que tem respondido com prisões e uma ofensiva de propaganda. Após os primeiros protestos, em março, o presidente classificou os manifestantes de "oportunistas, intriguistas e demagogos" que, segundo ele, querem levar a Angola "uma certa confusão que há em outras partes da África". De acordo com o ditador José Eduardo dos Santos, a intenção do grupo é "colocar fantoches no poder que obedeçam à vontade de potências estrangeiras". "Temos de ser mais ativos do que eles para vencermos a batalha da comunicação da verdade", disse o presidente a seus seguidores. Nesta "batalha da comunicação", o ditador ngolano conta com expertise do Brasil. Publicitários brasileiros comandaram a campanha do MPLA nas eleições legislativas de 2008, as primeiras desde o fim da guerra civil. Com intensa campanha nos veículos oficiais, o partido obteve mais de 80% dos votos e mudou a Constituição, pondo fim às eleições diretas para presidente e extinguindo o cargo de primeiro-ministro. Agora, a Carta determina que o partido mais votado nas eleições legislativas (as próximas serão em 2012) deve indicar o presidente, regra que, especula-se, abriria o caminho a outro mandato de José Eduardo dos Santos.

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